Egito Antigo
Schwaller de Lubicz: O REI DA TEOCRACIA FARAÔNICA
Hoje sabemos o que os gregos antigos aparentemente não sabiam: que no Egito antigo havia um calendário muito completo, lunar, solar e sotíaco. O ciclo sotônico baseava-se na coincidência, a cada 1460 anos, do ano vago de 364 dias com o ano siriático de 365 dias 1/4. Todos os atos civis eram datados de acordo com o ano vago, que consistia em exatamente 360 dias mais os cinco dias epagômenos dedicados aos Neters: Osíris, Ísis, Set, Néftis e Hórus.
O ano siriático, ou ano fixo, foi estabelecido de acordo com a ascensão helíaca de Sirius, e o intervalo entre duas ascensões helíacas de Sirius não corresponde nem ao ano tropical, que é mais curto, nem ao ano sideral, que é mais longo; pois, notavelmente : como resultado da precessão dos equinócios, por um lado, e do próprio movimento de Sirius, por outro, a posição do Sol em relação a Sirius se move na mesma direção, quase exatamente na mesma quantidade.
Cálculos feitos por astrônomos mostraram que, entre os anos 4231 e 2231 a.C., a duração aproximada do governo de Taurus Hap, o “ano de Sirius” era quase idêntico ao nosso ano juliano de 363 dias 1/4, ou seja, durante todo o Reino Antigo, “e só podemos admirar a alta ciência que descobriu tal coincidência, já que Sirius é a única estrela entre as estrelas “fixas” que permite esse ciclo. Portanto, podemos supor que Sirius desempenha o papel de um centro para o circuito de todo o nosso sistema solar”.
Portanto, a estrela dupla Sirius pode ter sido escolhida para essas coincidências porque é a única estrela que se move na quantidade certa e na direção certa contra o fundo das outras estrelas no céu. Esse fato, conhecido quatro mil anos antes de nossa era e esquecido até hoje, obviamente exige uma observação extraordinária e longa do céu.
Em lugar de tentar formular um calendário rígido, os Antigos souberam se dar conta de todos os movimentos celestes e os pôr em coincidência com a vida na terra. Estes Sábios consideravam separadamente o ciclo lunar e o ciclo solar; ora o ciclo solar é ele mesmo complexo, e é considerado como o ano trópico (tempo compreendido entre dois retornos consecutivos da Terra ao Equinócio da primavera e o ano sideral (tempo que corre entre duas conjunções da Terra com uma mesma estrela); mas estes dois períodos se contam por frações de dias, de minutos e de segundos, e não podem servir de unidade de tempo fixo pois exigem correções constantes. Os Antigos também não adotaram nem um nem outro, mas o ano siríaco de 365,25 dias exatamente, ano determinado para o retorno periódico do nascer helíaco de Sírio. Ora, entre os movimentos excessivamente lentos das estrelas ditas «fixas» umas em relação às outras, Sírio é a única estrela que permite de compensar a distância irracional de tempo e de estabelecer um ano fixo — ou Ano de Deus — servindo de medida de referência para anotar todos os movimentos do céu. O nascer helíaco de Sírio determinava o Dia do Ano, denominado «abertura do ano».