tradução
A palavra representação, que desnaturou toda a teoria do conhecimento, diz Mairena em curso de retórica, se presta a numerosas confusões que podem ser fatais para o poeta. As coisas estão presentes na consciência ou ausentes dela. Não é fácil demonstrar e, de fato, ninguém demonstrou que elas estavam representadas na consciência. Mas, mesmo se se admite que existe um tipo de espelho na consciência uma espécie de espelho que reflete imagens mais ou menos semelhantes às coisas mesmas, é preciso sempre se perguntar: como a consciência percebe as imagens de seu próprio espelho? Porque uma imagem em um espelho coloca o mesmo problema de percepção que o objeto ele mesmo. Parece conveniado atribuir ao espelho da consciência o poder milagroso de ser consciente, e é dado como certo que uma imagem na consciência é a consciência de uma imagem. Assim, se esquiva da eterna questão, evidente para o bom senso: aquela da heterogeneidade absoluta entre os atos de consciência e seus objetos.
Vós destinados à poesia, artistas criadores de imagens, são convidados a sobre isso refletir. Porque também tereis que lutar com presenças e ausências, em nenhum caso com cópias, traduções ou representações.
Original
La palabrarepresentación, que ha viciado toda la teoría del conocimiento —habla Mairena en clase de Retórica—, envuelve muchos equívocos, que pueden ser funestos al poeta. Las cosas están presentes en la conciencia o ausentes de ella. No es fácil probar, y nadie, en efecto, ha probado que estén representadas en la conciencia. Pero aunque concedamos que haya algo en la conciencia semejante a un espejo donde se reflejan imágenes más o menos parecidas a las cosas mismas, siempre debemos preguntar: ¿y cómo percibe la conciencia las imágenes de su propio espejo? Porque una imagen en un espejo plantea para su percepción igual problema que el objeto mismo. Claro es que al espejo de la conciencia se le atribuye el poder milagroso de ser consciente, y se da por hecho que una imagen en la conciencia es la conciencia de una imagen. De este modo se esquiva el problema eterno, que plantea una evidencia del sentido común: el de la absoluta heterogeneidad entre los actos conscientes y sus objetos.
A vosotros, que vais para poetas, artistas imaginadores, os invito a meditar sobre este tema. Porque también vosotros tendréis que habéroslas con presencias y ausencias, de ningún modo con copias, traducciones ni representaciones.