Uma das visitas naquela manhã, uma dama, ficou muito comovida com a condição de Maharaj e com a maneira como ele estava sentindo sua dor estoicamente. Ela pensou que a dor física poderia ser ainda pior que a morte. Ela não pôde deixar de contar a Maharaj: Senhor, não tenho medo da morte, mas tenho um medo terrível da dor física. Por favor ME diga como poderia ME livrar desse medo?
Maharaj riu e disse: Receio não poder ajudá-la por aí, mas tenho certeza de que existem muitos outros que conhecem os métodos de evitar ou diminuir a dor física. Tudo o que posso fazer é te explicar o que é o próprio sofrimento e quem sofre.
Sempre deves ir à raiz do problema. Quando começou a experiência do sofrimento? Tens alguma lembrança de algum sofrimento, digamos, cem anos atrás? Quando a experiência começou? Penses profundamente nisso, para que as respostas a essas perguntas surjam dentro de ti sem nenhuma palavra. É a vida — vivendo a ela mesma — diferente de experienciar; experienciando em duração, momento a momento expandido na horizontal? E o que está experienciando? Não está reagindo a um estímulo externo que é interpretado pelos sentidos como uma experiência — agradável e aceitável, ou desagradável e inaceitável. Não se experiencia sofrimento — se sofre uma experiência agradável ou desagradável.
Agora, a pergunta básica com a qual deves se preocupar é: quem (ou, mais apropriadamente o que) é que sofre uma experiência? Deixe-ME dizer-lhe imediatamente: ‘Eu’ não sofro (não posso sofrer) qualquer experiência, agradável ou desagradável; é apenas um ‘tu’ ou um ‘eu’ que sofre uma experiência. Este é um pronunciamento muito importante e você deve refletir profundamente sobre isso.
Eu realmente deveria deixar você resolver este problema por conta própria, ou melhor, deixar o problema resolver por ele mesmo! Mas vamos prosseguir. Não posso sofrer nenhuma experiência, porque sou pura subjetividade sem o menor traço de objetividade, e apenas um objeto pode sofrer. Um ‘eu’ ou um ‘tu’ é um objeto e, portanto, sofre experiência. Além disto, como qualquer outro objeto, um ‘eu’ ou um ‘tu’ não podem ter substância e, portanto, podem existir apenas como um conceito na conscientidade (consciousness). Além disto, nunca esqueça que é apenas a conscientidade que pode sofrer, porque qualquer reação a um estímulo, que é o que é experienciar, só pode ocorrer através da conscientidade. De fato, portanto, conscientidade e sofrimento são idênticos e não são de forma alguma diferentes. Reflita sobre este ponto muito significativo.
O que digo, acharás bastante difícil de entender porque te identificastes com o corpo, o aparato psicossomático pelo qual uma experiência é sofrida, o instrumento no qual a experiência sofrida é registrada. Perdestes tua identidade com a pura subjetividade, o Absoluto que realmente és, e te identificastes erroneamente com o objetivo ‘eu’; por conseguinte, dizes ‘eu sofro’ e, portanto, estás ‘sujeito’.
Entendes o que tenho dito? Estás ciente da minha verdadeira identidade como intemporalidade, infinito, subjetividade — portanto, não sofro e não posso sofrer. Estou ciente de que é a conscientidade que aparentemente sofre uma experiência através do aparato sensorial. Por outro lado, acreditas que és o aparato sensorial e é esta tua identidade equivocada que é a causa do teu sofrimento e da tua sujeição.
Enquanto houver conscientidade funcionando, mantendo o aparelho sensorial funcionando, também haverá vida, experiência, sofrimento — positivo ou negativo. Mas tu, como ‘eu’, és apenas o testemunhar de tudo. Todo funcionamento é a expressão objetiva de o-que-se-é subjetivamente, e todo ser sensível pode dizer o seguinte: o-que-se-é não pode sofrer nenhuma experiência, apenas um objetivo ‘tu’ ou ‘eu’ pode sofrer uma experiência.