Baret (EBA) – consciência

Antonio Carneiro

– Sou interpelado por uma palavra que pronunciastes mais cedo: « insucesso. » Poder-se-ia dizer que se pode passar a vida driblando fracassos e que isso seria um caminho de sucesso… porque o insucesso deixa um gosto amargo e leva à se pôr muitas questões sobre o sentido de sua vida?

Podeis passar a vida imaginando ter êxito ou fracassar. Mas em nada podeis ter êxito nem fracassar: é uma ideologia.

Um dia estareis enfastiado de imaginar, nesse instante, êxitos e fracassos imaginários, fantasmas de vitórias e derrotas futuras se eliminarão também. Eis o sucesso, não há nenhum outro. É isso que é preciso deixar se instalar em nós.

Nenhum lugar para mágoa, esperança ou amargura: tudo isso é uma forma de agitação. Permaneceis tranquilo, claro. A vida se desenrola em vós, não estais na vida.

– Se não tem sucesso, não tem evolução também?

Não tem evolução psicológica. O velho não é mais que a criança: é uma outra expressão da vida. Também não é menos quando perde sua força, sua inteligência, sua memória e sua saúde.

– Quando o velho se desequilibra, quando perde a memória, é menos consciente, não?

Consciência relativa, pois não estava consciente. Ele imaginou ter êxito e fracassar em coisas — aquilo que é do inconsciente. Ele imaginou ter um nome, decidir seus atos … Ele imaginou toda sua vida. Não é porque ele esqueceu esse imaginário que ele tem menos. Ele reencontra alguma coisa de essencial, sem memória, sem apropriação.

É importante observar quanto ver um ancião que se torna senil nos repercute. Por que é tão difícil? Que é que ME assusta? Sou posto em questão. Apercebo-ME que vou ser como isso e que não vou mais poder pretender — pretender meu êxito, meus fracassos. Eu vou ser obrigado a abdicar minha querida vida, minha querida identificação a mim mesmo. É isso que ME é penoso.

Deixemos o velho tranquilo de nossas projeções, de nossos medos. O velho vai muito bem: somos nós que temos medo. Um salmão no fim da vida não é menos que em seu esplendor. A degenerescência, sobre certo plano, faz parte de nosso processo biológico. Tem tanta beleza em cada um que morre quanto em cada um que nasce.

original

Páginas em