Bosch Olho de Deus

Jerônimo Bosch — SETE PECADOS CAPITAIS

OLHO DE DEUS
Vê-se que o olho de deus que se coloca sobre o espectador, o advertindo e o abençoando. Toda a obra oferece assim uma grande impressão de regularidade, de equilíbrio… que se observe o círculo das pinturas exteriores (apresentadas em SETE PECADOS CAPITAIS) ou no centro mostradas em detalhe em cada “pecado capital” (orge, hyperephania, porneia, akedia, gastrimargia, philargyria e pleonexia): na linguagem imaginada da Idade Média, se diria que este conjunto dá uma impressão de “legitimidade divina”.

No círculo interior não é difícil discernir a superfície irregular reservada a cada pecado, o conjunto representando os vícios terrestres cujos abusos não conhecem limites. Os setores dispostos de maneira sabiamente assimétrica simbolizam precisamente o caráter repugnante do mundo dos pecados que se opõe às leis de Deus. Tem-se frequentemente levantado a hipótese que esta concentração dos sete pecados capitais, repartidos em círculo, logo concêntricos, quer simbolizar o problema atual do pecado que abarca literalmente o mundo inteiro. É em todo caso evidente que aquele que quer observar todas as cenas de pecados deve absolutamente girar ao redor da mesa e assim suspender a meditação repousante, muito tranquila. A agitação que decorre deste deslocamento leva em seu ritmo a fascinação emanando de cada uma destas cenas de gênero de imagens realistas, bem coloridas e tão vivas.

Chamo a atenção para a importância do “olho que tudo vê”, desta “Presença” que vendo os pecados ao seu redor, os reconhece (primeira e fundamental etapa), os redime por este amor que é pura atenção sem crítica ou julgamento, e assim os ressuscita em união divina.