BUDDHI
Intelecto, ideia
Excertos de “Les Notions philosophiques. PUF, 1990

Sânscrito, substantivo feminino
O termo BUDDHI provém de uma raiz verbal BUDH- significando “se despertar” (o Buda é literalmente “o Desperto”). Rapidamente, no entanto, veio a designar especificamente a capacidade de síntese mental (samkalpa) ou de julgamento (adhyavasaya). Na “psicologia”comum ao Samkhya-yoga e ao Vedanta, a BUDDHI constitui a peça mestra do órgão mental ou órgão interno (antahkarana). Ela é o lugar onde se opera a integração de todos os dados informativos (de origem externa ou interna (percepções, afetos, lembranças, esquemas adquiridos de comportamento, etc.) e onde se elabora uma resposta coerente. Essa toma a forma de uma decisão nela mesma ainda indivisa mas destinada a se detalhar e a se explicitar a favor mesmo de sua execução pelo manas, os órgão da palavra, da preensão, etc. É a notar, no entanto, que a BUDDHI, por ela mesma, não “pensa”. Ela é parte da Natureza prakriti, e a este título. puro instrumento ou órgão. A consciência de si que parece dever acompanhar todas as operações do intelecto não pertencem ao intelecto ele mesmo mas é “tomada emprestada” por ele à monada espiritual ou purusha.

Esta “proximidade” particular — a princípio difícil a conceitualizar — do Espírito e do intelecto se traduz paradoxalmente por duas ordens de consequências opostas. Por um lado, a BUDDHI aparece como aqueles derivados da Natureza que é o mais “aberto” ao Espírito. A démarche decisiva da discriminação (viveka; vide diakrisis) pela qual a purusha se separa da Natureza é a obra da BUDDHI da qual ela constitui, por assim dizer, o canto do cisne (ver Comentário de Vacaspati Mishra sobre ). Por outro lado, no entanto, a BUDDHI é o órgão mental que, por sua agilidade, sua flexibilidade, sua inércia mínima, parece quase escapar ao tempo e assim “imitar” melhor a perfeita coincidência com ele mesmo do purusha ou puro princípio de consciência. Por aí mesmo ela se designa como o lugar da mais sutil e da mais tenaz confusão entre Espírito e Natureza: a identificação do “eu” consciente com o corpo exterior e seus órgãos é grosseira, transparente, fácil a denunciar; a identificação com o intelecto e os processos mentais em geral é de tal modo profundo e “natural” que sua presença não é de ordinário mesmo desconfiada.

Além do mais, o Samkhya conserva o traço de especulações cosmogônicas mais antigas onde um purusha original divino devia a princípio se constituir em ego e se dotar de um intelecto (cósmico) antes de criar o universo. Explica-se assim que a BUDDHI seja considerada como o primeiro dos princípios (tattva) evoluídos a partir da Natureza original e seja ainda frequentemente identificada à entidade denominada mahat (o grande princípio).

Assinalemos enfim que o termo BUDDHI é correntemente empregado nos textos filosóficos bramânicos no sentido de “representação”, “ideia”. Não interdito desvendar neste uso uma possível influência do budismo. Este, com efeito, não admite a existência de qualquer estrutura permanente, qualquer “faculdade mental”, atrás das ideações particulares surgindo a cada instante.


René Guénon: BUDDHI OU O INTELECTO SUPERIOR
BUDDHI, aunque es informal y supraindividual, es todavía manifestado, y, por consecuencia, depende de Prakriti de quien es la primera producción.