BUDISMO — CHAN — AS DEZ ETAPAS DA ILUMINAÇÃO
”PASTOREIO DO BOI E O ZEN (excertos de “O Retorno à Origem”, de Lex Hixon)”
4. A CAPTURA DO BOI — Precisamos agora segurar e abraçar o Boi, dar sustentação à maneira como percebemos a Verdadeira Natureza com disciplinas como a compaixão total, a não-violência perfeita e a honestidade inabalável.
A quarta imagem do Pastoreio do Boi é a Captura do Boi. Hoje ele encontrou o Boi, que há muito corcoveia nos campos agrestes, tendo, na verdade, o capturado. Há tanto tempo ele se deleita nesse ambiente, que não é fácil romper seus antigos hábitos. Ele continua a ansiar pela grama de doce fragrância: ainda é teimoso e descontrolado. Para domá-lo totalmente o homem precisa usar o chicote. Ele precisa segurar firmemente a corda e não largá-la, pois o Boi tem tendências doentias. O caráter intransigente do Boi, vivenciado nesse estágio, expressa-se literalmente em japonês como força selvagem. Esta é a energia bruta da Iluminação, para a qual nada importa, o total abandono que vê a criação e a destruição como sendo uma coisa só. Essa energia precisa ser contida e refinada, uma função de avançadas disciplinas espirituais, que não podem ter início até que se tenha gerado uma profunda percepção intuitiva com relação à onipresença da Mente Original. Isso se deve ao fato de que antes dessa percepção intuitiva, as disciplinas espirituais são simplesmente uma expressão da ilusão da busca. Precisamos agora segurar e abraçar o Boi, dar sustentação à maneira como percebemos a Verdadeira Natureza através de disciplinas como a compaixão total, a não-violência perfeita e a honestidade inabalável. São elas o chicote e a corda. Estamos lidando com a força selvagem do Boi, que pode se mostrar perigosa. As distorções da genuína espiritualidade são possíveis neste estágio. Se o aprendizado e a prática disciplinada forem prematuramente abandonados, a energia da Iluminação pode se dissipar transformando-se numa atividade arbitrária e obstinada. O fato de o Boi ainda ser teimoso e descontrolado e ansiar pela grama de doce fragrância é um reflexo de que a consciência primordial sempre esteve em atividade num campo infinito, não limitado por convenções humanas. O pensamento superficial convencional, que atua nas nossas vidas cotidianas, desenvolveu-se como um desvio, aparentemente separado do campo aberto da Verdadeira Natureza. Quando essa separação ilusória é rompida e o Boi selvagem penetra na consciência humana convencional, o sistema de valores do praticante adiantado e até mesmo seu sistema nervoso físico precisam ser reconstituídos a fim de harmonizar a energia da Iluminação com o ser pessoal e cultural.