Frithjof Schuon, Esoterismo como Principio e como Via (EPV)

Na confrontação permanente de dois seres, são necessárias duas aberturas equilibrantes, uma dirigida para o céu e outra para a própria Terra.

A arte sacra é vertical e ascendente, ao passo que a arte profana é horizontal e equilibrante. Na origem, nada existia de profano; cada instrumento era um símbolo e até a decoração era simbolista e sacral. Mas, com o tempo, a imaginação manifestava-se cada vez mais no plano terrestre e o homem sentia necessidade de uma arte que fosse para ele próprio e não só para o Céu. Além disso, a Terra, que na origem era sentida como um prolongamento ou uma imagem do Céu, tornava-se cada vez mais a Terra pura e simples, isto é, o humano sentia-se cada vez mais no direito de ser apenas humano. Se a religião tolera essa arte, é por ela ter a sua função legítima na economia dos meios espirituais, seja na dimensão horizontal ou terrestre e com vistas à dimensão vertical ou celeste.

…o êxtase é uma forma de “ver a Deus” através de um véu, seja ele tecido de símbolos, seja feito de luz inefável. Aliás, pode coincidir com uma visão e, nesse caso, será a condição subjetiva de uma forma de percepção sobrenatural objetiva — como pode ser o sonho —, isto é, será o lugar de encontro já celeste com vistas a um contato entre a terra e o Céu.