O desenvolvimento do pensamento zen na China seguiu mais ou menos os moldes indianos até o tempo de Hui-neng; mas, depois dele, tomou uma direção caracteristicamente chinesa. A visão intelectual da natureza-própria, cultivada em profundidade pelos hindus, passou a ser o que podemos chamar de fase de demonstração prática do Zen chinês. Nos termos da filosofia budista chinesa, podemos dizer que o uso do Prajna adquiriu maior relevo que o Corpo de Prajna. (Daisetz Suzuki: Doutrina Zen da Não-Mente.)
Foi o budismo que propiciou o encontro das filosofias da Índia e da China. Introduzido na China já no primeiro século de nossa era, várias foram as tendências que desenvolveu; no presente depoimento, interessa-nos a seita contemplativa do Dhyana (Meditação, Contemplação) — Chan, em chinês; Zen, em japonês.
O credo do Dhyana foi primeiramente pregado, na China, por Bodhidharma nos séculos V ou VI de nossa era. Em 6751, rompeu-se a unidade da escola: de um lado colocou-se uma corrente que advogava a teoria da iluminação gradual (Jianwu), alcançada através da purgação das paixões e da purificação progressiva da mente; de outro, um grupo, conduzido pelo sexto patriarca Chan, Huineng, que pregava a iluminação súbita (dunwu): “a sabedoria iluminada (Bodhi-prajna), o homem do século a traz originalmente em si próprio”.
A obra de base da doutrina subitista Chan é o chamado “Sutra esotérico da Doutrina da Escola do Sul, Grande Perfeição da Sabedoria do Supremo Mahayana: Sutra da Plataforma pregado pelo Sexto Patriarca, Huineng, no Templo de Dafan em Shaozhou (Nanzong Dunjiao Zuishang Dacheng Moheban-ruo Mi Jing: Liuzu Huineng Dashi, yu Shaozhou Dafansi shi Fa Tanjing), denominação normalmente reduzida para Sutra da Plataforma. (Excertos de Ricardo Joppert, “O Samadhi do Verde-Azul”)”
Data fornecida pelo Sutra da Plataforma. Provavelmente a verdadeira cisão ocorreu em 734, quando Shenhui, monge Chan, engendrou a querela transmitida no Sutra entre Subitistas e Gradualistas ↩