Chittick (RumiSPL) – Ver as coisas como elas são

1. Forma e sentido

Rumi tem piedade daqueles que olham o mundo em volta e dentro de si mesmos e não compreendem que o que estão vendo é um véu sobre a realidade. O mundo é um sonho, uma prisão, uma armadilha, espuma jogada sobre o oceano, poeira levantada pelo trote de um cavalo. Mas não é o que aparece ser.

Se tudo que aparece para nós fosse apenas como aparece, o Profeta, que era dotado de tão penetrante visão, tanto iluminada como iluminante, nunca teria dito, “Ó Senhor, mostre-nos as coisas como elas são!” (Fihi 5/18).

Rumi traça uma distinção fundamental entre forma (surat) e “sentido” ou “sentido” (mana). A forma é a aparência exterior de uma coisa, sentido sua realidade interior e invisível. Em última instância, sentido é esta mesma coisa mas como é conhecida para Deus Ele-mesmo. E como Deus está além de qualquer tipo de multiplicidade, em última análise o sentido de todas as coisas é Deus.

Forma é sombra, sentido o Sol. (Masnavi VI 4747).
Face ao sentido, o que é a forma? Muito desprezível. O sentido dos céus as mantém em lugar…
O sentido do vento faz ele girar como um moinho de ventos, prisioneiro da água da corrente. (Masnavi I 3330, 33)
Saiba que a forma exterior passa, mas o Mundo do Sentido permanece para sempre.
Quanto tempo te enamorarás do formato do jarro? Deixe de lado o formato do jarro: Vá buscar água!
Tendo visto a forma, não percebes o sentido. Se és sábio, pegue a pérola da concha. (Masnavi II 1020-22)

O mundo então é forma, ou uma coleção de uma miríade de formas. Por sua própria natureza cada forma apresenta seu próprio sentido, que é sua realidade com Deus. É tarefa do homem não ser iludido pela forma. Deve compreender que a forma não existe para si mesma, mas manifesta um sentido acima e além de si mesma.

Formas são o óleo, sentido a luz — de outro modo, não ficarias perguntando porque. Se a forma é para a forma ela mesma, então porque perguntar “Porque”?… Então a sabedoria não pode permitir que as formas externas dos céus e dos habitantes da terra exitam apenas para isto. (M IV 2994-2995)

Vá além da forma, escape dos nomes! Fuja de títulos e nomes em direção ao sentido! (M IV 1285).

A dicotomia entre sentido e forma é um eixo nos ensinamentos de Rumi e deve ser sempre lembrada. Ele refere a ela em muitos contextos diferentes e através de grande variedade de imagens e símbolos. Um dos pares mais comuns é causas secundárias (asbab) e Causa Primeira (musabbib); exterior (zahir) e interior (batin), pó e vento, espuma e oceano, sombra e luz.

As pessoas olham as causas secundárias e pensam que elas são a origem de tudo que acontece. Mas foi revelado aos santos que as causas secundárias nama mais são que um véu. (F 68/80)
Estas causas secundárias são véus sobre os olhos, pois nem todo olho é digno de ver Sua arte. Deve se ter um olho que vais além das causas secundárias e corte todos os véus, até o final onde possa ver a Causa Primeira no Não-lugar e saber que a exercícios, ganhos e compras são sem sentido. Todo bem e mal vem da Causa Primeira. O Pai, causas secundárias e sentidos não são nada mas um fantasma materializado sobre o caminho, de modo que o período de perdição dure ainda mais. (M V 1551-55)


2. Existência e não-existência

Referindo-se à forma e sentido ou o exterior e o interior, Rumi utiliza outro conjunto de termos que enfatizam a face “negativa” do sentido em relação à “positiva” da forma: neste sentido, forma é “lugar” e sentido é “não-lugar”.


3. A ilusão da dicotomia

Forma e sentido estão inextricavelmente conectadas: forma deriva de sentido e sentido se manifesta como forma. O problema é se dar mais importância à forma e não à compreensão.


4. A “ciência de religiões”

Referência a duas espécies de conhecimento e visão: uma que discerne apenas forma, e outra que vai além da forma e discerne o sentido. A primeira “ciência de corpos” e a outra “ciência de religiões”.

Rumi (1207-1273), William Chittick