Uma das razões para a extraordinária ênfase de Ibn Arabi na importância da imaginação é sua tentativa de conscientizar as pessoas do desserviço prestado à compreensão pela extração racional e pela abstração. Não que ele não aprecie a razão. Pelo contrário, ele considera a faculdade racional um dos dois olhos com os quais os viajantes de Deus veem para onde estão indo e, sem ambos, nunca alcançarão seu objetivo. Entretanto, grande parte da tradição intelectual islâmica – como a cristã e a pós-cristã – empregou a razão para separar os ossos da carne. De fato, isso destrói o corpo vivo.
Com muita frequência, no caso do estudo de Ibn Arabi, “ir direto ao ponto” é matar. Ir direto ao ponto é encerrar o assunto, mas não há encerramento, apenas revelação. Ibn Arabi não tem um ponto específico ao qual queira chegar. Ele está simplesmente fluindo junto com as infinitas e diversas revelações de Deus, e está sugerindo que deixemos de lado nossas artificialidades e reconheçamos que estamos fluindo junto com ele. Não há “ponto”, porque não há fim.
A tentativa de fazer Ibn Arabi chegar ao ponto, geralmente para que possamos colocá-lo nesta ou naquela categoria, muitas vezes manifesta nosso próprio desejo de alinhar seus escritos com nossas próprias predisposições e preconceitos. No contexto islâmico tradicional, ele e outras grandes figuras quase nunca foram estudados com o objetivo de classificá-los, de dominá-los por meio de reivindicações abrangentes de autoridade intelectual. Pelo contrário, eles eram abordados com humildade e com o reconhecimento de que tinham algo real e profundo a ensinar, algo que o restante de nós não tem.