Michel Chodkiewicz – O Selo dos Santos

PROFECIA E SANTIDADE NA DOUTRINA DE IBN ARABI [MCSS]

Os trabalhos de Miguel Asin Palacios, de Henry Corbin, de Toshihiko Izutsu revelaram ao público ocidental a figura singular de Ibn Arabi. Se os grandes traços de sua metafísica começam a ser conhecidos, sua hagiologia quase não foi explorada, embora se constitua na primeira formulação global e coerente no pensamento islâmico de uma doutrina da santidade que ao mesmo tempo define a natureza e a função e precise os critérios de uma tipologia dos santos fundada sobre a noção de herança profética. Ela esclarece também com novas luzes o problema controverso da origem do “culto dos santos”.

A obra de Chodkiewicz, baseada sobre uma análise minuciosa dos textos, apresenta dados essenciais deste aspecto do ensinamento de Ibn Arabi. Conclui por uma descrição detalhada das duas fases — ascensão a Deus, descida às criaturas — da viagem iniciática cuja realização faz do santo o necessário mediador entre o Céu e Terra: assim o fim dos santos nada mais é que o fim do mundo.

Titus Burckhardt: O VERBO DE SETH Em seus Futûhât al-Makkiyah, Ibn Arabi fala também do “Selo da santidade dos profetas e dos enviados” (IV, 57); entende por isto o Cristo quando de sua segunda vinda antes do fim dos tempos. Esta função, que pode parecer contraditória nela mesma, se explica da seguinte maneira: o “enviado” que “selará” o presente grande ciclo da humanidade e que salvará os eleitos fazendo-os passar no ciclo futuro, não pode evidentemente aportar nova lei sagrada, que só tenha sentido para uma coletividade devendo subsistir como tal, mas fará ao contrário ressurgir as verdades intrínsecas comuns a todas as formas tradicionais; ele se dirigirá portanto à humanidade inteira, o que só poderá fazer se situando de algum modo sobre o plano esotérico, que é aquele do santo contemplativo (al-walî); será todavia profeta e enviado, de uma maneira implícita, por causa de sua função eminentemente cíclica, mas será explicitamente um “santo”, enquanto o inverso tem lugar para quase todos os profetas precedentes. Notemos aqui que o Cristo, no Corão fala como um “enviado” (rasul), já manifesta então desde sua primeira vinda uma tal “extraversão” da santidade (Wilaya) e do esoterismo, o que faz disto a princípio aos olhos dos sufis o modelo do santo por excelência; e é preciso que assim seja para que haja, fora de toda questão de ordem cosmológica, uma verdadeira identidade espiritual entre o Cristo precedendo Maomé e o Cristo “redescendido” no final dos tempos. — Na mesma passagem dos Futuhat, Ibn Arabi fala do “Selo da santidade dos profetas e enviados” é o primeiro que também é o “Selo da santidade universal”.

Selo dos Santos (resumos e excertos a seguir, e links em caixa-alta)

  • Prólogo
    • Breve apreciação da recepção de Ibn Arabi no Ocidente
    • Crítica por alto de algumas obras sobre Ibn Arabi
    • Dificuldades de apreensão da imensa obra de Ibn Arabi (só o Futuhat mais de 17000 páginas)
    • Conjugação em Ibn Arabi da santidade e do gênio; fusão em sua obra das ciências e das formas literárias mais diversas.
    • Breve biografia de Ibn Arabi
    • No início do capítulo IV de suas Futuhat Ibn Arabi se dirigindo a seu mestre e amigo tunisiano Abd al-Aziz Mahdawi, a quem dedicou esta obra, evoca a estada que teve com ele em 1201 e tenta persuadi-lo de se reunirem na Cidade Santa, “a mais nobre das moradas de pedra e de terra”. Em sequência trata do caráter mais ou menos favorável à contemplação dos lugares onde se reside. “Os lugares produzem um efeito nos corações sutis e logo há uma hierarquia das moradas corporais (manazil jismaniyya) como há uma hierarquia das moradas espirituais (manazil ruhaniyya)”. Este caráter privilegiado de certos lugares, ele precisa que te a ver com aqueles anjos, gênios (djinns) ou homens, que aí estadiam ou aí estadiaram. O espaço terrestre portanto não é neutro: a passagem de um santo ou sua estadia póstuma aí determinam de algum maneira um campo de forças benéficas. O Xeique al-Akbar dá ao mesmo tempo uma caução e um fundamento a uma das formas mais visíveis do “culto dos santos”.
    • O “culto dos santos” se dirigiu inicialmente aos membros da família profética e aos Companheiros. Desde o século IV da hégira monumentos funerários foram edificados em Bagdá em honra dos santos ilustres do século anterior.
    • A época de Ibn Arabi é como o início de uma nova era; ela vê surgir ao mesmo tempo as formulações teóricas e as instituições que orientarão todos os desenvolvimentos ulteriores da mística islâmica até nossos dias; é também a época em que se efetuam para o sufismo a passagem do implícito ao explícito em matéria doutrinal, e sociologicamente uma mutação que conduzirá do informal ao formal, da fluidez à organização. Os conceitos fundamentais se precisam e se ordenam em uma ampla síntese com a obra de Ibn Arabi. paralelamente as turuq (confrarias) começam a nascer e codificam em regras e métodos as práticas das quais elas são as herdeiras. O “culto dos santos” se estrutura e se intensifica sobre o modelo da devoção comunitária ao Profeta.
  • Um nome compartilhado
  • “Aquele que te vê Me vê”
  • A esfera da walayat
  • A Realidade maometana
  • Os herdeiros dos Profetas
  • Os quatro pilares
  • O grau supremo da walayat
  • Os três Selos
  • O Selo da santidade maometana
  • A ESCADA DUPLA

Ibn Arabi (1165-1240), Michel Chodkiewicz