Além disso, os dialetos científicos e proletários modernos tendem a restringir os significados das palavras a seus poderes meramente denotativos, ao passo que as línguas mais expressivas (que chamamos apenas de mais pitorescas) podem empregar os termos mais comuns com um significado extraordinário; por exemplo, uma grande parte da linguagem técnica da teologia se baseia nas artes. De fato, somente quando o equilíbrio polar entre o físico e o metafísico é preservado em uma linguagem, a totalidade do homem, que não vive apenas de “pão”, pode comunicar mais do que uma fração de sua experiência. Ainda podemos dizer que uma garota “fisga” um homem e o “pesca”, mas isso é para nós apenas uma metáfora um tanto cínica. Esquecemos que toda técnica já teve um significado espiritual também; como podemos observar se considerarmos, nesse caso, as palavras de Meister Eckhart, “pois o amor é como o anzol de um pescador”, e entendermos que ele está usando aqui, não um mero símile, mas a linguagem de uma tradição que pode ser reconhecida também em Marsilius Ficinus, nos Evangelhos (“Pescadores de homens”, São Mateus 4: 19, São Marcos 1:17, São Lucas 5:10), e nas palavras de Hafiz: “Como o peixe no mar, eis-me nadando, até que Ele, com Seu anzol, faça meu resgate”. Isso ficará muito mais evidente se refletirmos que “nadar no mar” também tem seu significado técnico e que, nessa linguagem, a “linha” do pescador representa o “fio do espírito” ou a corrente na qual todas as coisas estão amarradas e pela qual a Deidade solar “puxa” todas as coisas para si, um conceito que pode ser encontrado na literatura europeia (para não mencionar a babilônica, islâmica, indiana e chinesa) desde Homero até Blake. Da mesma forma, o cristão pode falar da alma como perseguindo o “rastro” de sua presa, Cristo, e ao dizer isso está empregando a linguagem da caça que Platão usa quando fala de estar “nas pegadas da verdade” e que está subjacente ao sânscrito marga, “Caminho” (no sentido mais elevado), da raiz mrg “rastrear”. Outra ilustração: nossas palavras “feixe” (de madeira, do alemão Baum, “árvore”) e “feixe” (raio de luz) são etimologicamente idênticas, enquanto que em Pali, rukkha, árvore, é um derivado de ruc, brilhar, e está relacionado a lux, luz, assim como o próprio lux está relacionado a lucus, bosque; e será visto que aqui estão as implicações que reaparecem no conceito de Branstock, Rubus Igneus e Sarça Ardente. Estudos linguísticos têm sido frequentemente empregados para fins etnográficos; por exemplo, a partir de vocabulários existentes, infere-se que, onde a bétula cresce, deve ter vivido um povo que falava uma língua proto-indo-ariana. Mas, por meio de uma investigação das iconografias das palavras, podemos ir muito além disso e descobrir seu conteúdo mais completo e, de modo geral, mais antigo; pois essas palavras e frases são uma chave não apenas para a cultura material, mas para a visão ou o pensamento das pessoas que as inventaram. Devemos lembrar também que as palavras em si são apenas imagens de coisas e atos, e que são esses últimos que são os verdadeiros portadores das conotações que as palavras comunicam; assim, quando não pudermos mais localizar, por exemplo, as palavras “árvore da vida” em uma cultura pré-literária, mas encontrarmos em sua arte pré-histórica, ou em sua arte popular “sobrevivente”, representações visuais, essas são tão inteiramente válidas quanto a palavra escrita teria sido, e podemos então traduzir adequadamente o símbolo visual em “nossas próprias palavras”. Como diz Edmund Pottier, “na origem, toda representação gráfica responde a um pensamento concreto e preciso: é verdadeiramente uma escrita”, e nunca devemos esquecer que a história da literatura começa muito antes da história das letras.
Portanto, nosso objetivo é apontar que estamos negando antecipadamente qualquer possibilidade real de compreensão da “história da literatura” se não formos capazes de ler nas palavras e frases sobreviventes (que estamos tão inclinados a considerar como fantasias ou invenções de poetas individuais, mas que são realmente muito mais do que “um único homem profundo”) seus significados completos e originais. A meu ver, nosso ensino de história literária é uma farsa porque não sabemos que se trata de “uma totalidade” e tratamos as figuras do pensamento universal como se fossem apenas figuras de linguagem inventadas; de modo que, se o inglês preciso é, para a grande maioria de nosso proletariado “escolarizado”, uma língua morta, isso pode ser tanto por causa de sua “escolarização” quanto apesar dela. Em relação ao presente, digo que nada além da familiaridade com a linguagem extremamente inteligível da filosofia tradicional, da qual diferentes culturas são os dialetos, deixará claro que, em frases como as discutidas aqui, o significado da copulativa “é” dependerá inteiramente do que é predicado do sujeito: há um Sócrates que envelhece e outro Si de Sócrates que é imortal, um que se torna e outro que é. Parafraseando Sófocles (Édipo Tirano 870), “Um Deus nele é grande, ele não envelhece”. “Como ele é em si mesmo”, Sócrates é um fenômeno. “Como ele é em Deus”, ele é uma essência. Nessas duas frases, “é” tem significados diferentes: no primeiro caso, o de “tornar-se”, no segundo, o de “ser”.
[pós 1946]