Corbin Goethe

Henry Corbin — Goethe
Excertos da tradução em português de Dimas David Santos Silva, do livro de Steven Wasserstrom, “Religion after Religion”

Todo o efêmero nada mais é que um símbolo Henry Corbin, versão de Goethe, 1969.

Goethe, muito mais do que seu predecessor Hamann, exerceu uma forte influência sobre Corbin e Eliade, e uma significativa, ainda que menor, influência sobre Scholem. Mais especificamente, todos os três acharam que seu segundo Fausto era um marco muito precioso.

Corbin foi um eterno e ardente teutófilo. Foi também um tradutor muito conhecido do alemão nos anos trinta. Quando mais tarde traduziu os famosos versos de Goethe, Alies Vergängliche/Ist nur ein Gleichnis, fez isto com uma mudança muito interessante. Realmente, da primeira vez que traduziu, comentou explicitamente sobre a própria tradução:

A interpretação da Cruz pelo ismaelismo não nos parece uma desvalorização do que é real, pois não temos uma concepção tão unilateral. Longe disso, simbolismo implica valorização eminente. Toda efeméride não é senão um símbolo. Deve-se portanto traduzir: nada menos do que um símbolo.

A penetração celebradamente aforística de Goethe nunca se perdeu com Corbin. Como uma epígrafe para uma seleção do sufi Ibn Arabi, do século treze, Corbin aplicou um verso da última cena do Fausto, parte 2: ‘Das Unbeschreibliche, Hier istss getan’ (Eis que o indescritível/realmente acontece).

O texto de Henry Corbin HOMEM DA LUZ NO SUFISMO IRANIANO dedicou sua parte final a Farbenlehre, de Goethe. Falando dele como uma ‘espécie de Goethe iraniano’, Corbin resumiu os ensinamentos de al-Kirmani, um mestre do século dezenove da escola Shaikhi. Corbin retornou a esta comparação, evocando-a novamente ao referir-se ao ‘nosso eminente Shaikh’. Neste último contexto, nosso eminente francês islamita afirmou que Kirmani ‘atinge níveis prenunciados por Goethe na conclusão do segundo Fausto: um feminino eterno’. O ‘Prólogo do Céu’, de Fausto, parte 2, figurou proeminentemente na dramática exposição de Corbin do misticismo islâmico.

Na versão do sufismo de Corbin, a hermenêutica espiritual significou a ‘transformação de tudo que seja visível em símbolos, o único meio de dar significado ao que deve ter significado.’ Corbin partilhou com Scholem uma firme concepção da ‘natureza simbólica de tudo que existe’. Por isso, Scholem usou frases bem similares às de Corbin: ‘O que torna a Cabala interessante é seu poder de transmutar as coisas em símbolos’. Os cabalistas de Scholem, como os sufis de Corbin, então, são aqueles místicos para os quais ‘tudo tem um caráter simbólico’.

Goethe, Henry Corbin