(Agrippa, De occulta philosophia, Riffard1996)
Da união das coisas que se misturam, como se lhes da forma e sentidos vitais
Há que saber que quanto mais nobre é a forma de uma coisa, mais pronta e disposta está a receber e maior capacidade tem para obrar. É assim que se tornam maravilhosos os efeitos incompreensíveis das coisas, no momento que se empregam a tempo e se preparam com misturas proporcionadas para vivificar, conciliando, por meio das estrelas, a vida e a alma sensível como forma mais nobre. As matérias preparadas têm tanta força depois de terem recebido a vida, que possuem uma potência soberana ao ultrapassar, por causa da mistura perfeita das suas qualidades, a primeira contrariedade e adquirem uma complexão tanto mais perfeita quanto mais a sua mistura está afastada da contrariedade. Pois o Céu, que é todo poderoso, quando começa a engendrar algo pela cocção e digestão perfeita da matéria, comunica com a vida influências celestes e qualidades maravilhosas, enquanto houver na mesma vida e na alma sensível capacidade e disposição para receber as virtudes mais nobres e sublimes. Para além disto, a virtude celeste está por vezes adormecida, como o enxofre afastado do fogo ou da chama. Nos corpos vivos está às vezes ardente como o enxofre incendiado, que enche com o seu vapor tudo o que está perto dele; é assim que se realizam algumas operações maravilhosas que se leram no livro do Nemith também intitulado As Leis de Plutão, porque estas espécies de gerações são monstruosas e não se realizam segundo as leis da Natureza.
É sabido que os vermes engendram mosquitos; os cavalos, vespas ou moscas; que as abelhas vêm do vitelo e do boi; que o caranguejo enterrado sem pés produz um escorpião; que o ganso assado, até se reduzir a pó e deitado à água, engendra rãs e se for cozido inteiro e cortado em bocados, ao pôr-se num lugar húmido e debaixo de terra, engendra sapos; que o manperição esmagado entre duas pedras engendra escorpiões; e que os cabelos de um mulher que esteja com as suas regras, colocados debaixo de esterco, produzem serpentes; e que o pêlo da cauda do cavalo, deitado na água, toma vida e transforma-se em verme pernicioso; e que há um artifício pelo qual num ovo de galinha incubado se engendra uma forma parecida com a do homem, coisa que eu vi e soube fazer. Os magos dizem que tem virtudes admiráveis e chamam-lhe a verdadeira mandrágora. Há, pois, que saber quais são as matérias começadas ou aperfeiçoadas pela Natureza ou pela arte, ou compostas de vários, que são capazes de receber as influências celestes, pois a relação ou conveniência das coisas naturais com as celestes basta para que tiremos as suas influências, já que como nada impede que os corpos celestes estendam a sua luz sobre os inferiores, não permitem que matéria alguma seja susceptível da sua virtude. É por isso que tudo o que é perfeito e puro não é absolutamente incapaz de receber as influências celestes, pois há uma tal relação e conexão da matéria com a alma do mundo, que influi quotidianamente sobre as coisas naturais e sobre tudo o que a natureza prepara, que é impossível que a matéria preparada não receba vida ou forma nobre.