DANIEL PICKERING WALKER (1914-1985)
Vemos agora o Renascimento com outros olhos, depois que soubemos quanto o neoplatonismo impregnou a arte eo pensamento deste período. Mas o neoplatonismo do Renascimento não testemunha simplesmente o retorno, mais ou menos “místico” e cristianizado, de um idealismo filosófico redescoberto nos séculos XV e XVI através das obras de Platão e de seus primeiros sucessores. Este neoplatonismo testemunha tanto um vivo interesse pelos escritos mágicos e místicos atribuídos a vários “Antigos Sábios”tais como Zoroastro e Hermes Trismegisto; com efeito, ele favorizou uma corrente de pensamento, o Hermetismo, que como Frances Yates notou, é precisamente a obra Walker sobre Marcilio Ficino, que assim forneceu uma base sólida a esta reinterpretação da imagem que nós tínhamos do Renascimento.
Walker, que mistura uma preocupação com a exatidão histórica, a poesia, e por vezes o humor, retraça aqui a história de uma tradição, aquela da magia neoplatônica da qual Marsilio Ficino representa o modelo exemplar. Ele estuda os diversos ramos e excrecências desta magia “demoníaca” (quer dizer angélica). A documentação apaixonante que apresenta, e o esboço histórico que traça, dão a ver como a magia angélica, em seu casamento com a magia planetária da Idade Média, chegou a Cornelius Agrippa a uma magia não ortodoxa. Em seguida, nos mostram por quais percursos a magia “espiritual” (aquela que faz apelo aos “espíritos”) se transmutou para se tornar música e poesia em La Boderie, cristianismo ortodoxo em Giorgi, cristianismo não-ortodoxo em Persio. No final do século XVI, estas duas direções tomadas pela “tradição mágica” de novo se uniram na oratória planetária de Paolini e na magia praticada por Tommaso Campanella, para marcar mais tarde de seu selo específico certas correntes culturais de nossa história.
O nome e carreira de D.-P. Walker, especialista do século XVI, e especialmente de seus aspectos hermetistas, musicólogo reconhecido, serão sempre associados àqueles de sua colega no Instituto Warburg de Londres, Frances Yates. Em suas investigações sobre o humanismo musical e as teorias dos efeitos maravilhosos da música, encontrou na figura chave de Marsilio Ficino, campo para estudos aprofundados sobre a magia descendente do neoplatonismo. (Traduzido da apresentação de Antoine Faivre a um livro de D.-P. Walker)