VIDE: diabo
Pierre Gordon: IMAGEM DO MUNDO NA ANTIGUIDADE
Os demônios foram sobretudo os personagens sagrados tormentadores, aqueles que faziam os neófitos sofrer provações (os gigantes e os ogros entram nesta categoria), aqueles também que levam os noviços para o mundo subterrâneo para aí fazê-los morrer, ou que aí os «digeriam» quando eles se encontravam reclusos. Como estes seres eram mais frequentemente revestidos de despojos animais santificantes — evoluídos mais tarde em máscaras — os demônios foram frequentemente personalidades híbridas, assimiladas a animais. Deviam semear quanto mais pavor quanto mais vieram a se comportar como animais e a adotar a linguagem destes. Nada se tornava mais terrificante para os não iniciados que ver e ouvir, durante a noite, desfilar um cortejo barulhento do Grande Caçador (cortejo que nossos ancestrais medievais, que dele ainda faziam experiência, denominavam Mesnie Herlequin); cães latindo, gatos miando, cabras berrando, lobos uivando, leões rugindo, touros mugindo. As pobres crianças que estas criaturas de pesadelo vinham colher em suas casas para conduzi-los para o mundo subterrâneo deviam ser tomadas de medo. Nada de surpreendente que estas personalidades divinas de antão tenham se tornado, ao longo do tempo, Espíritos, Fantasmas, Mortos saídos de seu túmulo, Ancestrais, ou Demônios: todas estas entidades têm mesmo proveniência e segundo os países, são intercambiáveis. Jamais não são causa das invenções do pensamento humano. Sempre se discerne, no ponto de partida, uma realidade ritual. As numerosas espécies de demônios conhecidos da antiga Caldeia ou da Índia possuíram uma existência autêntica e desempenharam um papel preciso, fora da imaginação, a saber: nos usos sagrados se associaram aos ritos iniciáticos.
Simbolismo
Jurgis Baltrusaitis: MORCEGOS E DEMÔNIOS