— “O mundo é, portanto, algo, ‘no qual’, o ser humano (Dasein) como vivente (als Seindes) já estava, ao qual ele (es) pode retornar assim que se voltar expressamente para qualquer coisa.” (Heidegger, Sein und Zeit)
A brecha que a Ideia do Mundo abre entre os fenômenos que se dão e o que se retira nessa mesma dação é mostrada aqui, por si só, no Jogo de “algo” (Etwas) e “isto em que” (Worin).
O mundo é, antes de mais nada, um “algo” que se retira do habitar de que se quer rapidamente dele fazer a função única e essencial. Ou melhor, ele é tanto aquele “x” que marmoriza o entendimento humano kantiano quanto, ao mesmo tempo, este “habitar”, este espaço na atmosfera (Stimmung) do qual todo vivente e o ser humano ele mesmo podem se aperceber ser. A Brecha através da qual a essência do mundo é revelada, entre “etwas” e “worin”, determina, concede (bestimmt) assim um espaço de jogo no qual e a partir do qual devem ser compreendidos toda preocupação e todo relacionamento com uma coisa ou com os outros. A Brecha se torna a matriz de todos os relacionamentos possíveis. A partir daí, o ser humano pode ser caracterizado como aquele que, das profundezas de sua natureza, pode permitir que surja a possibilidade de representar tal brecha, de torná-la presente para si mesmo por meio da pura produção da Ideia do Mundo até o polo da Ausência que equilibra a expectativa na fragilidade de um pressentimento. Qual é a natureza desse poder de reapresentar a Ausência? Onde e como surge? Antes de nos aprofundarmos nessas questões, vamos mostrar que a Meditação Zen está igualmente aberta à Panrealidade, ao Mundo, a partir das profundezas do que Houei-neng chama de “natureza própria” do ser humano.