Duval (HZEN:35-36) – deixar-ser

Foi difícil fazer com que o eu se afastasse de si mesmo, para voltar a se concentrar na produção pura que o leva a ser, a crescer e a se transformar, o que a produção da Ideia do Mundo sinaliza fundamentalmente.

Foi difícil obter a consciência puramente reflexiva da Panrealidade, por meio da qual a realidade humana é então levada a conceber a si mesma, a vir a experimentar a si mesma como a luz do ser; uma luz desejada pela força obscura do Ser; uma luz que permanece obscura nessa origem oculta que a mantém no Jogo de seus intercâmbios.

É muito significativo notar que a Meditação Zen coloca esse “deixar ir” do sujeito em relação a si mesmo na base de sua abordagem, de seu pragmatismo radical.

Os Mestres começam se preocupando, abrindo uma fenda na esfericidade do “eu” engolfado em si mesmo, fazendo uma pergunta como esta:

– Quando me faço perguntas sobre mim mesmo, quem me responde?” (P. Shibata)

Quando me questiono, sinto a inadequação de ser meu próprio alicerce. Abro o narcisismo inveterado de minhas seguranças e minhas boas razões para viver ou não gostar de viver. Ao me questionar, abro-me para a força silenciosa que leva-me a formular tal pergunta, e deixo que essa força chame a si mesma de “eu” que sou “em realidade” de mais longe do que “eu”, o “Eu” na origem da Panrealidade que o realiza.

Jean-François Duval