O Novo Caminho (navamārga) ensinado na doutrina Kashmiri Śaiva é a transcendência por meio da participação ativa. Não é a liberdade “de”, mas a liberdade “para”. O desejo não é negado, mas aceito em um nível mais elevado como a pura vontade ou liberdade (svātantrya) do absoluto. O desejo deve ser eliminado somente se for o desejo “por” (ākānkşā), em vez do desejo “para” (icchā). A matéria não pode macular o absoluto, nem é irreal. A liberdade é alcançada quando se conhece completamente a “irrealidade da matéria”; a ignorância do espírito é a ignorância da verdadeira natureza da matéria. Desse ponto de vista, a ignorância é a incapacidade de experimentar diretamente a conexão íntima (sambandha) entre o infinito e o finito, justificando assim uma participação ativa no continuum infinito-finito. Seguindo esse Novo Caminho, a transição do finito para o infinito não exige que postulemos qualquer distinção ontológica entre eles. O finito é um símbolo do infinito. O infinito carimba seu selo (mudrā) em sua própria natureza repleta de todas as formas possíveis do finito. Essa é a atitude transcendental do absoluto, ou seja, sua manifestação iminente como o finito. A realidade é o estado de eterna emergência (satatodita) do finito a partir do infinito e vice-versa. A expansão da distinção relativa (bheda) entre os elementos que constituem o Todo é equivalente à contração da consciência indivisa (abheda) de sua totalidade e vice-versa. Nenhum exclui o outro, mas juntos eles participam da plenitude abrangente (pūrnatā) da pulsação (spanda) do absoluto em suas diferentes fases de existência. O verdadeiro conhecimento (sadvidyā), desse ponto de vista, é saber que os aparentes opostos normalmente contrastados entre si, como sujeito e objeto, unidade e diversidade, absoluto e relativo, são aspectos da única realidade.
O caminho do Vedāntin é o de se retirar do finito para alcançar um retorno (nivŗtti) ao infinito. Esse processo, entretanto, do ponto de vista Śaiva, é apenas o primeiro estágio. O próximo estágio é a jornada externa (pravŗtti) do infinito para o finito. Quando a perfeição é alcançada em ambos os movimentos, ou seja, do finito para o infinito e vice-versa, o homem participa da vibração universal do absoluto e compartilha de sua liberdade essencial. Daí em diante, não viaja mais “para” e “de”, mas eternamente “através” do absoluto, percebido como sendo ao mesmo tempo infinito e finito. O nível mais elevado de desapego (paravairãgya) não é alcançado afastando-se da aparência, mas percebendo que o absoluto se manifesta como todas as coisas. O absoluto manifesta livremente a diversidade (bheda) por meio de seu poder infinito. Os sábios sabem que esse poder se derrama na completude do Todo (viśvamandala) e, ao fazê-lo, flui apenas para si mesmo. Estando no topo do Ser (parakāşţhā), o absoluto está repleto de fenômenos. As correntes da manifestação cósmica fluem para todos os lados a partir dele, assim como a água de um tanque cheio até transbordar. Reabastecido interiormente por seu próprio poder, emerge espontaneamente como o universo e torna manifesta cada parte da totalidade cósmica como una com sua própria natureza.