A realidade única se manifesta tanto como unidade quanto como diversidade. Não pode haver unidade real a menos que os diversos elementos estejam unidos na totalidade da totalidade. Por outro lado, sem unidade, a diversidade seria ininteligível. Uma dispersão total de elementos não constitui diversidade, mas um número de unidades únicas e não relacionadas. Assim como tudo o que cai em uma mina de sal torna-se salgado, toda essa diversidade, fundamentada na unidade, compartilha do sabor único da unicidade. Há uma diferença inegável entre os fenômenos individuais, mas a distinção que percebemos entre duas entidades e que nos leva a pensar que uma difere da outra é meramente externa. A distinção relativa não é uma qualidade inerente das coisas que pode dividir sua natureza inata, não porque essa divisão (bheda) seja de alguma forma irreal, mas porque opera dentro do domínio do real, que aparece como fenomenicamente manifesto. A divisão (bheda) é meramente a distinção relativa entre duas entidades manifestas; se baseia na diferença entre suas formas manifestas.
“A distinção relativa entre duas realidades (tattva)”, escreve Abhinava, “não é impossível. Essa é a doutrina da Unidade Suprema, na qual a distinção relativa não é evitada nem aceita. Embora haja uma diferença [externa] entre os fenômenos, não há nenhuma [interna], pois são/estão estabelecidos em sua própria natureza essencial”.
A realidade é o Um (eka) que se manifesta como os muitos (bahu). O Ser Universal se move entre dois polos, ou seja, a diversificação do Um e a unificação dos muitos. O pensamento (vikalpa) interfere em nossa compreensão intuitiva direta desse fato e divide os dois aspectos desse movimento em categorias separadas. A realidade é um todo estruturado que consiste em uma hierarquia graduada (tāratamya) de princípios metafísicos correspondentes aos planos de existência (daśā). Nos planos mais baixos, até o nível de Māyā, experimentamos a separação (bheda) entre os objetos e nós mesmos; no nível mais alto, alcançamos o plano da unidade (abheda) que permeia e contém em si todos os outros. Maheśvarānanda escreve:
Nós sustentamos que a base da dualidade (bheda) no universo [empírico] é uma fase (vibhāga) [da realidade]! A separação entre as coisas certamente não é acidental (upādhi), pois, se eles [isto é, o objeto e sua separação] fossem dois, a unidade seria contradita.
Ele continua dizendo:
As várias categorias de existência (padārtha), embora distintas umas das outras em sua [forma externa], devem ser, em termos de sua natureza específica essencial, uma única realidade coletiva.