Eliade-Couliano (Dicionário) – Buda

O Buda, nome que significa, em pali e em sânscrito, «Iluminado» (ou «Despertado»), foi primeiramente e muito provavelmente um personagem histórico. No entanto, nas suas Vidas ou jatakas, os dados mitológicos vão ao ponto de transformar o Buda em protótipo do «homem divino» segundo a tradição indiana (ver Jainismo) — que pertence também a um sistema atestado noutras áreas geográficas. Este sistema apresenta elementos em comum com os theioi andres dos Gregos e com as biografias míticas mais tardias de outros fundadores de religiões como Jesus, Mani, etc. Mesmo sendo impossível abstrair dos dados históricos, várias informações devem ser retidas: segundo estas, o futuro Buda teria sido o filho de um pequeno rei do clã Sakya, no Noroeste da Índia. As cronologias do seu nascimento variam entre 624 e 448 a. C. A sua mãe morre alguns dias após o parto, não sem ter beneficiado de todas as premonições que anunciavam a vinda ao mundo de um ser miraculoso. Segundo as versões docetas do nascimento de Buda, a sua concepção e gestação foram imaculadas e o seu parto virginal. O seu corpo teria revelado todos os sinais de um rei do mundo.

Com dezasseis anos, Siddhartha casa com duas princesas e leva uma existência sem privações no palácio paterno. Mas, saindo três vezes do palácio, ele toma conhecimento dos três males irreversíveis que afligem a condição humana: a velhice, o sofrimento e a morte. Saindo uma quarta vez, ele descobre o remédio contemplando a paz e a serenidade de um asceta mendigo. Acordando a meio da noite, os corpos flácidos e adormecidos das suas concubinas a dormir revelam-lhe mais uma vez o carácter efémero do mundo. Deixando rapidamente o palácio, dedica-se ao ascetismo, mudando o nome para Gautama. Depois de ter abandonado dois mestres que lhe ensinam respectivamente a filosofia e as técnicas do ioga, pratica um regime de mortificações muito severas em companhia de cinco discípulos. Mas, tendo compreendido a inutilidade deste gênero de ascese, aceita uma oferenda de arroz e come-a. Indignados por esta prova de fraqueza, os discípulos deixam-no. Sentando-se debaixo de uma figueira, Sakyamuni (o asceta do clã dos Sakyas) decide não mais levantar-se até ter alcançado o Despertar. Sofre o assalto de Mara, que conjuga nele a Morte e o Mal. Ao nascer do sol, ele vence-o e torna-se no Buda, possuidor das Quatro Verdades que, em Benares, ensina aos discípulos que o haviam abandonado. A primeira Verdade é que tudo é Sofrimento (sarvam duhkham): «O nascimento é Dor», a velhice é Dor, a doença é Dor», tudo o que é efémero (anitya) é Dor (duhkha). A segunda Verdade é que a origem do Sofrimento é o Desejo (trsnd). A terceira Verdade é que a eliminação do Desejo leva à eliminação da Dor. A quarta Verdade revela o Óctuplo Caminho (astapada) ou o Caminho do Meio que leva à extinção do Sofrimento: Opinião (drsti), Pensamento (samkalpa), Palavra (vak), Ação (karmanta), Meios de subsistência (ajiva), Esforço (vyayama), Atenção (smrti) e Contemplação (samadhi). As quatro verdades aproximam-se muito da mensagem original do Buda.

Após este primeiro sermão em Benares, a comunidade (samgha) de convertidos enriquece-se espetacularmente de brâmanes, reis e ascetas, o que é demasiado para o Iluminado que se vê obrigado a abrir às monjas o caminho do sacerdócio. Nesta ocasião, ele prevê o declínio da Lei (dharma). Invejas dos rivais e querelas entre os monges não poupam minimamente o Buda. O seu primo Devadatta, dizem certas fontes, teria tentado matá-lo para lhe suceder. Com oitenta anos, o Buda pereceria na sequência de uma indigestão. Segundo os estudiosos, detalhes desta natureza são demasiado embaraçantes para a própria religião para que pudessem ter sido inventados. É, pois, provável que sejam verdadeiros. (Eliade e Couliano)

Buda, Ioan Couliano, Mircea Eliade