Festugière — Hermetismo e Mística Pagã — Quadro da Mística Helenística
Um espírito filosófico é mais afetado pelas deficiências do ser sensível e, portanto, tende a se unir a um Princípio que é, essencial e eminentemente, o Ser (Der Seiende). Ora, o ser (das Sein) se manifesta como deficiente em todas as coisas aqui embaixo, por serem mutáveis e materiais, o que nos leva a procurar um Ser transcendente toda a ordem da matéria, um Princípio hipercósmico. Mas o ser (das Sein) não é menos deficiente nos próprios inteligíveis, na medida em que cada um deles expressa apenas uma essência limitada, que não pode abranger toda a extensão do ser: a constatação dessa nova deficiência nos leva a buscar um Ser que transcenda a própria ordem dos inteligíveis, um Princípio superessencial.
Os meios usados para alcançar o Princípio dependem da determinação do Princípio. A ascensão em direção ao Ser não envolverá apenas uma purificação de tudo em nós que é afetado pela matéria e nos liga ao mundo visível; também implicará um salto acima do inteligível. O Ser que desejamos alcançar será duplamente ἄγνωστος: escapará, é claro, de toda percepção sensível, uma vez que é, por definição, imaterial; mas também escapará de toda compreensão intelectual, uma vez que excede todos os inteligíveis limitados e se funde, em sua essência, com o infinito. Esse Princípio indefinível será, portanto, inominável, inefável. Para se aproximar dele, uma vez transcendida a matéria, será necessário negar toda determinação inteligível dela: esse é o caminho da negação (ἀφαίρεσις). Tudo o que restará, nesse cume, nessa nuvem luminosa, é aguardar o fenômeno pelo qual, emergindo, por assim dizer, de si mesmo e da ordem conceitual que é seu domínio ordinário, o νοῦς tocará, por meio de um contato misterioso, a realidade íntima do Ser.