Goethe e as artes plásticas

(Deghaye2000)

Assim, em vez de enxergar em Goethe um amador pouco talentoso que insistia em perseguir a quimera de uma arte para a qual não tinha verdadeira vocação, preferimos considerar sua reflexão estética segundo sua finalidade própria, que parece, antes de tudo, responder a uma preocupação literária.

A especulação sobre as artes plásticas se insere em uma evolução que, propriamente falando, não é a de um pintor, nem de um escultor, nem mesmo de um verdadeiro historiador da arte. Mas sua importância se limita a ser apenas um corretivo? O poeta solicita ao escultor apenas normas de um saber prático? Ele quer simplesmente tomar emprestada uma técnica? Ou busca apenas uma proteção contra os excessos de sua subjetividade?

O próprio Goethe, como vimos, destacou esses aspectos, e não precisamos repetir, depois de tantos comentaristas, o quanto sua escrita deve ao talento visual. Mas além dessa evidência, a paixão de Goethe pelas belas-artes não teria um sentido ainda mais profundo? Sua prática do desenho, que julgamos insatisfatória no plano da realização artística, não poderia se justificar de outra forma além dos benefícios prestados ao poeta no plano da expressão literária e de sua higiene intelectual?

É surpreendente encontrar aqui uma comparação com a alquimia. Mas pensemos na prática do químico diante de seu forno. Se ele visa apenas produzir ouro real, sua arte nos parece pouco séria. Contudo, admite-se hoje que a prática de certos adeptos tinha uma finalidade espiritual. No entanto, se concebemos que o opus químico possa se relacionar a uma abordagem espiritual, temos dificuldade em imaginar que o mesmo indivíduo persiga simultaneamente uma busca mística e trabalhe diante de um forno. E, no entanto, os sábios espagiristas jamais separaram o ideal e a prática, independentemente da altura de suas aspirações. Sem dúvida, é isso que nos escapa ao tentarmos penetrar a psicologia do artifex.

Agora, imaginemos Goethe em busca da planta primordial, essa famosa Urpflanze, que se assemelha um pouco à pedra filosofal, pois se trata de um arquétipo a partir do qual seria possível não apenas classificar as plantas existentes, mas também inventá-las, variando o modelo ao infinito. Goethe sonha em encontrar uma chave que lhe permita imitar o ato criador nos diferentes reinos. O tipo primordial lhe daria isso no reino animal. Trata-se de uma busca puramente ideal? Não, pois ele realmente procura a planta primeira no jardim de Palermo. Certamente, Goethe é um espírito moderno e compreende plenamente a distância que separa a realidade do que ele chama de seu projeto poético, como demonstra a carta do Viagem à Itália, escrita em Palermo, em 17 de abril de 1787. No entanto, seus “sonhos poéticos” se materializam em uma verdadeira pesquisa de botânico. Goethe, homem de ciência, se assemelha, ainda que de forma distante, mas certa, a esses filósofos alquimistas para os quais o sonho do espírito não pode prosseguir de outra forma senão na realidade da matéria.

 

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