Gravidade Ruptura Ser

RUPTURA COM O SER — GRAVIDADE

Pierre Gordon: A REVELAÇÃO PRIMITIVA

Alguns poderão estar surpresos que uma cisão com o ser tenha consequências tão assustadoras. É que não discernem que uma quebra deste tipo constitui um deslizamento para o nada; é, por outro lado, que imaginam, apesar deles, o super-homem como tendo vivido inicialmente no mundo apreendido como físico, quer dizer em nosso Espaço e no nosso Tempo: então, com efeito, o descolamento infligido a nossa espécie pelo primeiro ancestral não se explica, uma má escolha, em um universo como o nosso, podendo sempre, assim que nos instrui a experiência, se reparar. O que tornou, neste caso, a opção irremediável, é que ela teve lugar antes do nascimento de nosso Tempo e de nosso Espaço, que são os frutos; é que ele é produzido em um mundo mais perfeito, onde a ideia rejunta-se instantaneamente à existência, e onde um livre querer se cumpre em seguida, sem remissão.

Insistamos sobre este ponto, posto que ele desconcerta certos espíritos. O pensamento é poder criador. Ele é o único poder criador, e toda ideia é uma ideia-força, que se realiza infalivelmente, se nada a contraria. Em nosso mundo humano atual, é verdade, esta contrariedade existe quase sempre: desde quando, com efeito, nossas ideias estão separadas do ser, elas se chocam entre elas, se resistem mutuamente, e se entravam; é preciso portanto presentemente condições excepcionais para que uma ideia se atualize por seu poder próprio. Assim não se dá no mundo real, no mundo da matéria apreendida como radiante; aí, as ideias seguem sem obstrução a lei eterna de sua natureza; aí, o pensamento permanecendo totalmente em si, se identifica in loco a seu objeto; aí, a vontade se torna ao mesmo tempo o que ela quer ser; nada forma obstáculo à absoluta liberdade. Enquanto o pensamento permanece acordado a Deus, ele dispõe da energia infinita; ele participa no poder criador do ser, a quem ele está não somente unido, mas incorporado; não querendo senão o que quer ser, ele possui imediatamente o que pensa e o que quer. Lhe é suficiente querer para ter (vide Contos de Fadas).

Ora, em se desacordando de Deus, o primeiro homem perdeu bruscamente a excedente de luz e de potencial que o mantinha no reino do poder absoluto e da liberdade; ele teve instantaneamente o que tinha querido, mas, pelo fato mesmo que se destrançava do ser em lugar de nele se integrar para sempre pelo dom total de si. perdeu o poder de ter doravante o que queria. Parte irreparável, posto que nenhuma possibilidade não existia para ele de retornar sobre sua opção: tinha obtido o que tinha escolhido, e aí se encontrava selado. Ele recaiu assim brutalmente — e toda sua descendência com ele posto que ela detinha o mesmo ser — ao nível animal-humano. Seu pensamento deve se debater em um nível que não penetrava mais, e que se tornou para ele irreconhecível. Mesmo a substância de seu corpo lhe escapava: esta substância, feita de energia ativa, que manejava sem esforço e que se movia com uma agilidade estranha ao nosso mundo pesante, ele a percebeu do exterior, e não a conheceu senão em suas modificações; no lugar de uma matéria leve e dócil, sua alma teve como reverso a Carne, que reflete fora seu pesadume espiritual e mental. Retendo enfim os conhecimentos precedentemente adquiridos no universo de iluminação — conhecimentos de que instruiu seus filhos ë perdeu radicalmente o poder de adquiri outros pela mesma via, e teve de derrapar doravante no conhecimento sensível, que, ele, partia de zero. Em uma palavra foi reduzido à matéria grosseira, à terra.

Pierre Gordon