sujeito-objeto

(…) Dissemos que a separação e a oposição entre sujeito e objeto são todas peculiares à filosofia moderna; mas entre os gregos, a distinção entre a coisa e sua noção foi um pouco longe demais, pois a lógica considerava exclusivamente as relações entre as noções, como se as coisas fossem conhecidas por nós apenas por meio delas. O conhecimento racional é, sem dúvida, um conhecimento indireto, e é por isso que é suscetível a erros; mas se não alcançasse as próprias coisas até certo ponto, seria inteiramente ilusório e não seria, de fato, conhecimento algum; se, portanto, sob o modo racional, podemos dizer que conhecemos um objeto por meio de sua noção, é porque essa noção ainda é algo do objeto, que participa de sua natureza ao exprimi-la de nós. É por isso que a lógica hindu prevê não apenas a maneira como concebemos as coisas, mas as coisas na medida em que são concebidas por nós, sendo nossa concepção verdadeiramente inseparável de seu objeto, sem o qual não seria nada real; e, nesse aspecto, a definição escolástica da verdade como adœquatio rei et intellectus, em todos os graus de conhecimento, é, no Ocidente, a coisa mais próxima da posição das doutrinas tradicionais do Oriente, porque é a coisa mais próxima dos dados da metafísica pura. É lamentável que não tenha conseguido se libertar inteiramente das limitações herdadas da mentalidade helênica, e também que não pareça ter compreendido as profundas consequências do princípio, já estabelecido por Aristóteles, da identificação por meio do conhecimento. É precisamente em virtude desse princípio que, assim que o sujeito conhece um objeto, por mais parcial e até mesmo subperficial que esse conhecimento possa ser, algo do objeto está no sujeito e se tornou parte de seu ser; qualquer que seja o aspecto a partir do qual visualizamos as coisas, é sempre às próprias coisas que chegamos, pelo menos em algum aspecto, que em todo caso forma um de seus atributos, ou seja, um dos elementos constitutivos de sua essência. Mas, a rigor, os pontos de vista especiais do “realismo” e do “idealismo”, com a oposição sistemática que sua correlação denota, não se aplicam aqui, onde estamos muito além do domínio limitado do pensamento filosófico. Além disso, não podemos perder de vista o fato de que o ato de conhecimento apresenta duas faces inseparáveis: se é a identificação do sujeito com o objeto, é também, e da mesma forma, a assimilação do objeto pelo sujeito: Ao alcançar as coisas em sua essência, nós as “realizamos”, na plena força dessa palavra, como estados ou modalidades de nosso próprio ser; e, se a ideia, na medida em que é verdadeira e adequada, participa da natureza da coisa, é porque, inversamente, a própria coisa também participa da natureza da ideia. Basicamente, não há dois mundos separados e radicalmente heterogêneos, como supõe a filosofia moderna ao chamá-los de “subjetivo” e “objetivo”, ou mesmo sobrepostos à maneira do “mundo inteligível” e do “mundo sensível” de Platão; mas, como dizem os árabes, “a existência é única”, e tudo o que contém é apenas a manifestação, em múltiplos modos, de um único e mesmo princípio, que é o Ser universal.