Hirtenstein (SHCI) – Nomes Divinos

Se o Um e Único é a Origem de tudo, duas questões podem aparecer: como surge esta aparente multiplicidade e por que não vemos as coisas desta maneira?

Para Ibn Arabi a multiplicidade é inerente à Origem, da mesma forma que os números são inerentes na unidade “um”. Esta multiplicidade é o que ele chama de Nomes Divinos (aqui empregando uma terminologia alcorânica), que retratam os relacionamentos atinentes ao Próprio Ser. Podem ser classificados tanto como “transcendentes”, denotando a maneira pela qual o Ser Absoluto está além do relativo em virtude da interioridade e prioridade lógica, ou “imanente”, denotando a maneira pela qual o Ser está ligado ao relativo. Podem ser apenas conhecidos ou reconhecidos porque seus efeitos são manifestados: por exemplo, descrevê-Lo como Absoluto O isenta de todos os possíveis limites e condições, mas estes mesmos limites e condições já devem existir de alguma forma para que nós possamos transcendê-Lo deles. Da mesma forma, descrevê-Lo como Senhor exige a existência daquilo sobre o qual Ele é Senhor, e chamá-Lo de Deus requer a existência daquilo sobre o que a divindade pode ser exercida. Estas duas categorias de Nomes requerem a existência de um “lugar” por meio do qual elas são manifestas e conhecidas. O lugar é o mundo, um palco sobre o qual os vários Nomes podem representar seus papéis, direta ou indiretamente, amando o drama Divino. Portanto Ibn Arabi vê o mundo somente sob a mais positiva luz, como o lugar das manifestações das infindáveis possibilidades do Ser de Deus.

Os Nomes são relações nominais do Ser com Ele Próprio e não dividem a realidade essencial. Deve-se salientar aqui que o que Ibn Arabi chama de Deus (Allah) é o Nome que conecta todos os outros Nomes, a “totalidade dos Nomes que são contrários entre si”. [Futuhat] É como uma ligação entre todas as possíveis relações do Ser e a Própria Realidade essencial. Por analogia, um ser humano pode ser chamado de João e mesmo assim podemos descrevê-lo como um ser compassivo, conhecedor, capaz e assim por diante. Cada um desses adjetivos é diferente, mas eles não mudam a realidade essencial de João ou o tornam diferente ou múltiplo; simplesmente o mostram de diferentes pontos de vista, delineando suas qualidades e tornando-o conhecido. O tempo todo seu nome certo e primordial é João. Todos os nomes referem-se ao Um nomeado: dentro d’Ele são indiferenciados, enquanto por meio da manifestação parecem diferenciados.

Como, então, não vemos o mundo ou nós mesmos desta maneira? Ibn Arabi explica que nos acostumamos tanto com as ilusões da pluralidade que as consideramos reais. Em face da Unicidade a multiplicidade ilusória desaparece. Ele, frequentemente, usa uma analogia matemática para descrever como o Um é revelado e entendido pelo ser humano:

Quando a Unidade (wahdaniyya) é revelada, aquele que a testemunha não vê outro que ele próprio, tanto na estação de sua própria unidade ou na de qualquer outro. Se estiver na estação de sua própria unidade, será o mesmo que multiplicar um por um e o resultado será sempre um, usando termos numéricos como uma analogia e uma aproximação. Então multiplique um por um e terá um. Se não estiver na estação da unidade, então é o mesmo que multiplicar um por dois e ter dois como resultado e assim por diante, com todos os números. [K. al-Jalal wa’l-Jamal]

Stephen Hirtenstein