Deus é. Esse é o fato primordial. É para que possamos descobrir esse fato por nós mesmos, por experiência direta, que existimos. O fim e o propósito final de todo ser humano é o conhecimento unitivo do ser de Deus.
Qual é a natureza do ser de Deus? A invocação da Oração do Senhor nos dá a resposta. “Pai nosso que estás nos céus”. Deus é, e é nosso — imanente em cada ser senciente, a vida de todas as vidas, o espírito que anima cada alma. Mas isso não é tudo. Deus também é o Criador e Legislador transcendente, o Pai que ama e, por amar, também educa Seus filhos. E, finalmente, Deus está “no céu”. Isso quer dizer que Ele possui um modo de existência incomensurável e incompatível com o modo de existência dos seres humanos em sua condição natural e não espiritualizada. Por ser nosso e imanente, Deus está muito próximo de nós. Mas como Ele também está no céu, a maioria de nós está muito longe de Deus. O santo é aquele que está tão próximo de Deus quanto Deus está próximo dele.
É por meio da oração que os homens chegam ao conhecimento unitivo de Deus. Mas a vida de oração é também uma vida de mortificação, de morrer para si mesmo. Não pode ser de outra forma, pois quanto mais há do eu, menos há de Deus. Nosso orgulho, nossa angústia, nossa ânsia de poder e prazer são coisas que anulam Deus. O mesmo acontece com o apego ganancioso a certas criaturas, que muitas vezes passa por altruísmo e deveria ser chamado, não de altruísmo, mas de alter egoísmo. E o serviço aparentemente abnegado que prestamos a qualquer causa ou ideal que esteja aquém do divino não é menos eclipsador de Deus. Esse serviço é sempre idolatria e impossibilita que adoremos a Deus como deveríamos, muito menos que O conheçamos. O reino de Deus não pode vir a menos que comecemos por fazer desaparecer nossos reinos humanos. Não apenas os reinos loucos e obviamente maus, mas também os respeitáveis — os reinos dos escribas e fariseus, os bons cidadãos e pilares da sociedade, assim como os reinos dos publicanos e pecadores. O ser de Deus não pode ser conhecido por nós, se escolhermos prestar nossa atenção e nossa lealdade a outra coisa, por mais digna de crédito que essa outra coisa possa parecer aos olhos do mundo.