DA SABEDORIA DA INSPIRAÇÃO DIVINA NO VERBO DE SETH (cont.)
Voltemos agora aos dons que decorrem dos Nomes divinos: a misericórdia (rahma) que Deus prodigaliza a Suas criaturas decorre inteiramente dos Nomes divinos: ela é, seja da misericórdia pura, como tudo que é lícito dos alimentos e prazeres naturais e que não manchado de culpa no dia da ressurreição (conforme a palavra corânica: “Diz: quem então tornará ilícito a beleza que Deus manifesta por seus servidores e as coisas lícitas dos alimentos: diz: elas são para aqueles que creem, neste mundo aqui, e elas não serão sujeitas a desaprovação no dia da ressurreição…”) — e são estes dons que decorrem do nome ar-rahmân, — seja da misericórdia misturada (de castigo), como da medicina desagradável a tomar, mas que alivia em seguida. Tais são os dons divinos, pois Deus (em seu aspecto pessoal ou qualificado) sempre só dá por intermediário de um destes guardiões do templo que são Seus Nomes. Assim, Deus gratifica por vezes o servidor por meio do nome O Clemente (ar-rahmân), e é então que o dom é livre de qualquer mistura que seria momentaneamente contrária à natureza daquele que o recebe, ou que contradiria a intenção ou outra coisa (para o demandante); por vezes, Ele dá por intermédio do nome O Vasto (al-wasî), prodigalizando Seu dons de uma maneira global, ou bem Ele dá por intermédio do nome O Sábio (al-haklm), visando aquilo que é salutar (para o servidor) no momento dado, ou por intermédio do nome Daquele que dá gratuitamente (al-wahhâb), dando o bem sem que aquele que o recebe em virtude deste nome deve compensar pelas ações de graça ou de mérito; ou bem Ele dá pelo nome Daquele que reestabelece a ordem (al-jabbâr), considerando o meio cósmico e aquilo que lhe é necessário, ou pelo nome O Perdoante (al-ghaffâr), considerando o estado daquele que receberá o perdão: se ele se encontra em um estado que merece o castigo., Ele o protege deste castigo, Ele o protege de um estado que mereceria, e é neste sentido que o Servidor (santo) é chamado salvaguardado ou protegido do pecado. O doador é sempre Deus, neste sentido que é Ele o tesoureiro de todas as possibilidade e que delas só produz segundo uma medida predestinada e pela mão de um Nome concernente tal possibilidade. Assim, Ele dá a toda coisa sua constituição própria em virtude de Seu nome O Justo (al-adl) e de seus irmãos (como O Árbitro: al-hakam, Aquele que rege: al-wâlî, O Vencedor: al-qahhâr, etc.). Embora os Nomes divinos sejam indefinidos quanto a sua multitude, pois se conhecem eles pelo que deles decorre e que é igualmente indefinido, — eles deixam de ser reduzíveis a um número definido de “raízes”, que são as “mães” dos Nomes divinos ou as Presenças (divinas) integrando os nomes. Na verdade, só uma única e mesma Realidade essencial (haqlqah) que assume todas estas relações e conexões que se designam pelos Nomes divinos. Ora, esta Realidade essencial faz que cada um destes Nomes que se manifestam indefinidamente comporte uma verdade essencial pela qual ele se distingue dos outros Nomes; é esta verdade distintiva e não aquilo que tem em comum com os outros, que é a determinação, que é a determinação própria do Nome. Assim como os dons divinos se distinguem uns dos outros por sua natureza pessoal, embora decorram todos de uma única fonte — é logo evidente que este não é aquele; — a razão sendo precisamente a distinção dos Nomes divinos. Por causa de Sua infinidade, não há na Presença divina absolutamente nenhuma coisa que se repita — e isto é uma verdade fundamental.
Isso é a ciência de Seth, sobre a Paz! Seu espírito comunica a todo espírito que dele profira qualquer coisa, a exceção portanto do espírito do Selo que recebe esta ciência diretamente de Deus e não por intermediário de um espírito qualquer: bem mais, é do próprio espírito do Selo que este conhecimento aflua a todos os espíritos, embora disto não seja consciente enquanto subsiste em uma forma corporal. Na sua realidade essencial e na sua função puramente espiritual, ele conhece portanto diretamente tudo aquilo que ignora por conta de sua constituição corporal. è portanto ao mesmo tempo o conhecedor e o ignorante, e pode-se atribuí-lo qualidade aparamente contrárias, assim como seu princípio (divino), que é sua essência mesmo (‘aynuh), é ao mesmo tempo terrível e generoso, o Primeiro e o Último. Conhece portanto e não conhece ao mesmo tempo, percebe e não percebe, portanto contempla e não contempla.
É em virtude desta ciência que Seth recebe seu nome que significa o dádiva, quer dizer a dádiva de Deus, pois ele detém a chave do dom divino segundo todos seus diferentes modos e sob todas as referências. É assim porque Deus fez de Seth uma dádiva para Adão; ele foi a primeira dádiva gratuita que Deus fez (quer dizer a primeira dádiva que não exigiu, do lado daquele que o recebeu, qualquer compensação), e é de Adão mesmo que ele veio, pois o filho é a realidade secreta de seu gerador; é dele que provem e a ele que retorna, não lhe advém como uma coisa estranha a ele mesmo. É o que compreenderá aquele que vê as coisas do ponto de vista divino. Aliás, todo dom, no universo inteiro, manifesta-se segundo esta lei: ninguém recebe alguma coisa de Deus, (quer dizer) ninguém recebe alguma coisa que não venha dele mesmo, qualquer que possa ser a variação imprevista das formas. Mas poucos sabem disso, somente alguns dos iniciados conhecem esta lei espiritual. Logo se reencontras alguém que a conhece, podes ter confiança nele, pois um tal homem é a quintessência pura e o eleito dentre os eleitos dos homens espirituais.
Cada vez que um intuitivo contempla uma forma que lhe comunica este novo conhecimento que não tinha apreendido anteriormente, esta forma será uma expressão de sua própria essência (‘ayn) e nada que seja estrangeiro a ele. Cada árvore de sua própria alma que colhe o fruto de sua cultura, assim como sua imagem refletida por uma superfície polida nada mais é que ele, embora o lugar da reflexão — ou a Presença divina — que lhe outorga sua própria forma, provoca inversões seguindo a Verdade essencial inerente a tal Presença (divina). É assim que, no caso do espelho concreto, acontece que ele reflete as coisas segundo suas verdadeiras proporções, o grande como grande, o pequeno como pequeno, o alongado como alongado, e o movente em movimento, mas também (segundo sua constituição ou segundo a perspectiva) pode reverter as proporções; do mesmo modo é possível que um espelho reflita coisas sem a inversão habitual, mostrando o lado direito do contemplante de seu lado direito, enquanto em geral o lado direito da imagem refletida encontre-se em face do lado esquerdo deste que ali se mira; logo pode aí haver exceções à regra, como no caso onde as proporções se revertem; e tudo isto se aplica igualmente aos diversos modos da Presença (divina) na qual tem lugar a revelação (da “forma” essencial do contemplante), e que nós comparamos ao espelho.
Aquele que conhece sua predisposição, conhece por aí mesmo aquilo que ele receberá. Por outro lado, aquele que conhece aquilo que recebe não conhece necessariamente sua predisposição, a menos que não a conheça depois de ter recebido, nem que seja de uma maneira global.
Certos pensadores intelectualmente fracos, partindo do dogma que Deus faz tudo aquilo que quer, declararam admissível que Deus agisse contrariamente aos princípios e contrariamente àquilo que a realidade (al-amr) nela mesma (quer dizer, no seu estado principial — como se a manifestação de Deus não procedesse de possibilidades eternamente presentes no Ser divino e no Intelecto universal). Deste fato, foram até negar a possibilidade como tal e a só aceitar (como categorias lógicas e ontológicas) que a necessidade absoluta (a saber aquela da “existência” de Deus mesmo) e a necessidade por outro (quer dizer a necessidade relativa). Mas o sábio admite a possibilidade, da qual conhece o escalão ontológico; evidentemente, a possibilidade (como tal) não o possível (no sentido disto que poderia existir ou não existir), e donde a seria, pois é essencialmente necessária em razão de um (princípio) outro que ela. Mas enfim, donde vem então esta distinção entre ela e seu princípio que a torna necessária (e donde ela constitui precisamente uma possibilidade de manifestação)? Mas ninguém conhece a distinção da qual se trata salvo os conhecedores de Deus.
É sobre os traços de Seth que se manifestará o último nascido deste gênero humano; ele herdará os mistérios de Seth; não haverá outro ser engendrado após ele, de modo que ele será o selo dos engendrados (como Seth foi o primeiro santo). Com ele nascerá uma irmã; ela sairá antes dele (enquanto a primeira mulher manifestou-se depois do primeiro homem); e ele a seguirá tendo sua cabeça aos pés de sua irmã. Seu lugar de nascimento será na China (o país mais distante em direção ao oriente); e ele falará a língua de seu país natal. Neste dias, a esterilidade se espalhará pelas mulheres e pelos homens; de sorte que haverá muita coabitação sem geração. Ele chamará as pessoas para Deus, mas não terá resposta. Quando Deus tiver elevado seu espírito e que Ele terá elevado o último crente deste tempo aí, aqueles que sobreviverão serão como brutos, não distinguirão o lícito do ilícito; agirão segundo as puras tendências naturais, seguindo o desejo, independente da razão e da lei; e é sobre eles que se levantará a última hora.