Ibn Arabi (Fusus) – João

VIDE: SABEDORIA DOS PROFETAS

A SABEDORIA DA MAJESTADE NO VERBO DE JOÃO [AustinFusus]

  • O pai Zacarias continua vivendo no filho João, ou cada profeta vive no seu sucessor
  • O filho, espiritual ou físico, é essencialmente idêntico ao pai

O nome de João em árabe, Yahya, oferece a Ibn Arabi mais uma oportunidade de encontrar significado místico na construção das palavras. O nome árabe Yahya significa, como uma forma verbal comum do Indicativo Imperfeito, “ele vive”. O que ele quer dizer é que o pai, nesse caso Zakariah, continua vivo, essencialmente no filho, João [Batista], ou, por extensão, que cada profeta continua vivo no profeta que o sucede. No caso de Zacarias e João, as linhas de descendência física e espiritual estão combinadas. Isso porque, segundo ele, o filho representa, por assim dizer, a essência incorporada ou a semente de seu pai, em cuja incorporação tanto sua semente quanto seu nome continuam de uma geração para a outra e, portanto, são lembrados. Como vimos, ao discutir as várias modalidades do Espírito [Cap. 15], semente-essência, ideia-identidade e palavra-nome são conceitos intimamente relacionados, embora representem a realidade espiritual em diferentes níveis de existência. Assim, a deposição física da semente na “água” da mãe para produzir o filho é também um símbolo concreto, no contexto sufi, da implantação espiritual do Nome divino na mente mundana do aspirante, iniciando-o em uma nova vida do espírito, a fim de perpetuar a invocação [memória] de Seu Nome [Essência], ou da inspiração da Revelação na mente virgem do profeta, para produzir uma nova comunidade de e lembrança.

Levando o argumento adiante, chegamos à noção de que o filho, seja ele espiritual ou físico, é essencialmente idêntico ao pai. É essa noção que fundamenta a distinção que Ibn Arabi faz entre João e Jesus, uma vez que a relação do primeiro com o Espírito é indireta, por meio de seu pai, enquanto a do segundo é direta, tendo a semente espiritual sido depositada sem o intermédio do homem. Para ele, essa distinção, que ele baseia em palavras do Alcorão [XIX:15 e XIX:33], ilustra a diferença entre a baseada no aprendizado [‘ilm] do crente e a experiência de identidade baseada na gnose do santo-gnóstico. Nos versículos do Alcorão citados, João é abençoado por Deus, na terceira pessoa, enquanto Jesus, como sinal de identidade, invoca a bênção sobre si mesmo, depois de testemunhar a inocência de sua mãe, Maria, como símbolo da total receptividade da natureza ao ato do Espírito.

ANTERIOR <=> SEGUINTE

R. W. J. Austin, Sabedoria dos Profetas