Izutsu (ST:152) – A Automanifestação do Absoluto

Nas páginas anteriores, foi feita referência frequente ao conceito de “automanifestação” (tajalli). E em não poucos lugares o conceito foi discutido e analisado com algum detalhe. Isso é apropriado porque o tajalli é o ponto central do pensamento de Ibn Arabi. De fato, o conceito de tajalli é a própria base de sua visão de mundo. Todo o seu pensamento sobre a estrutura ontológica do mundo gira em torno desse eixo e, ao fazê-lo, desenvolve-se em um sistema cósmico de grande escala. Nenhuma parte de sua visão de mundo é compreensível sem referência a esse conceito central. Toda a sua filosofia é, em suma, uma teoria do tajalli. Portanto, ao discutirmos vários problemas relacionados à sua visão de mundo, não estamos, de fato, fazendo nada além de tentar elucidar alguns aspectos do tajalli. Nesse sentido, já sabemos bastante sobre o tópico principal do presente capítulo.

Tajalli é o processo pelo qual o Absoluto, que é absolutamente incognoscível em si mesmo, continua a se manifestar em formas cada vez mais concretas. Uma vez que essa automanifestação do Absoluto não pode ser atualizada, exceto por meio de formas específicas e determinadas, a automanifestação nada mais é do que uma autodeterminação ou autodelimitação do Absoluto. A autodeterminação (autodelimitação), nesse sentido, é chamada ta’ayyun (lit. “fazer de si mesmo uma entidade particular e individual”). Ta’ayyun (pl. ta’ayyunat) é um dos termos-chave da ontologia de Ibn Arabi.

A autodeterminação, à medida que se desenvolve, forma uma série de estágios ou níveis. De forma adequada e essencial, esses estágios são de uma estrutura não temporal, subsistindo, como de fato subsistem, além dos limites do “tempo”. Mas, ao mesmo tempo, eles também entram na ordem temporal das coisas e dão uma estrutura ontológica específica a ela.

De qualquer forma, quando descrevemos esse processo, somos forçados a seguir a ordem temporal. E isso é naturalmente o que o próprio Ibn Arabi faz em sua descrição do fenômeno do tajalli. Mas seria um erro se pensássemos que isso é meramente uma questão de necessidade causada pela estrutura de nossa linguagem, assim como seria igualmente errado supor que a automanifestação do Absoluto é um processo exclusivamente temporal.