Podemos dizer que “Luz” é o ser como ser, no pensamento de Sohravardi? que Luz é o nome do ser? Há muitos textos em que Sohravardi retoma a identificação do Ser necessário em si mesmo com o Princípio, nos quais ele diz que a Luz das Luzes, o Ser absoluto, é autossuficiente porque é necessário, que é necessário porque possui em si mesmo a razão de sua existência. Sob essa perspectiva, a Luz das Luzes se assemelha muito à substância do spinozismo. A consequência é imediata: se a Luz das Luzes é a substância primária e fundadora da luz, então ela é um ser. O ponto culminante que o pensamento pode alcançar na contemplação da Luz não pode, portanto, ir além do “ser”. O conhecimento presencial é uma ontologia.
Mas aqui, mais uma vez, é um vestígio, um resquício. A inspiração viva de Sohravardi é bem diferente. A Luz das Luzes ilumina cada Luz imaterial, é seu princípio de unificação e iluminação interna. Ela é a unidade de todas as unidades de presença e, consequentemente, o princípio que, no coração de cada foco de existenciação, torna possível a irrupção do ser. Portanto, está além do ser. É na posição do Uno que os neoplatônicos colocam, além de qualquer série de seres, o Uno inefável, fora de qualquer essência ou existência, aquele nada essencial do qual o ser provém, manifestando-o e ocultando-o. Em cada ser, a Luz é a presença desse princípio que transcende o ser, a presença do Um. É o excesso por meio do qual tudo nunca deixa de transcender sua própria situação, de modificar livremente seus modos de ser, por meio do qual a vida se expressa.
Nossa luz solar pode muito bem, então, ser o símbolo sensível disso, uma vez que ela nunca se estabelece no ser, mas sobrepõe-se continuamente às suas radiações anteriores. Luz é superabundância. É mais fácil entender por que a presença da Luz não é a imanência de um ser em sua realidade ôntica, mas a maneira pela qual um ser escapa de sua realidade ôntica. Ela é sua realidade.
O “esplendor” e a “luminescência” imateriais se estendem até os limites do universo. Ser é ser-Luz, manifestar um ato de presença e coesão. Mas a coesão viva e luminosa é o oposto do enclausuramento e do fechamento voltado para dentro de uma realidade morta. Além disso, qual pensador “platônico” já propôs uma imagem do ser e de seu princípio, o Um, que seja um “fechamento”? Sohravardi, assim como Plotino e Proclus, demonstra a futilidade dessa interpretação.
Não ser é ser incapaz de produzir, de iluminar, de multiplicar as manifestações de si mesmo ao redor de si mesmo, de irradiar a diferença. Essa falta intrínseca de unidade é uma dispersão ontológica interna que caracteriza, por exemplo, a matéria dos corpos físicos. É por isso que Sohravardi chama os corpos de “substâncias obscuras”, ou “substâncias tenebrosas”, “portadores da morte e da noite”.