esotérico

O conteúdo léxico do termo “esoterismo” é frágil (eso significa “dentro” e ter evoca uma oposição). Como qualquer termo por si só bastante vazio de sentido, este revelou-se passível de ser inchado, permeável, semanticamente superdeterminável. Daí não se tratar de interrogar sua etimologia, mas sua função, que é evocar um feixe de atitudes e um conjunto de discursos. A questão que colocamos é saber se essas atitudes e esses discursos permitem que o observador — o estudioso do esoterismo — circunscreva um campo de estudos possível. Trata-se sobretudo de não partir do que seria o esoterismo “em si”: decerto não existe nada disso. Não é nem mesmo um campo no sentido de que se fala do campo da pintura, da filosofia, da química. Mais do que um gênero específico, é uma forma de pensamento cuja natureza se trata de delimitar com base nas correntes que a ilustram. Tanto que o adjetivo surgiu muito tempo antes do substantivo, que data do início do século XIX; e com efeito seria melhor, sempre que possível, empregar o adjetivo, colocar o substantivo no plural (pode-se até achar preferível empregar no plural termos como “astrologia” ou “alquimia”). Ademais, como uma definição abstrata evitaria um a priori sobre o que ele deveria ser, sobre sua “verdadeira” natureza, isto é, finalmente, basear-se num pressuposto filosófico ou ideológico? Parece mais produtivo partir dos empregos feitos pelos vários discursos, perguntar-se a que realidades observáveis remetem esses empregos. Tomar como material de trabalho a exibição dos campos que se consideram explicitamente esotéricos e aqueles que os discursos esotéricos apresentam implicitamente como tal. Enfim, questionar que referência criteriológica utilizar para determinar a natureza esotérica de um discurso, de uma obra, já considerada ou não como tal. (Faivre)


A definição de “esoterismo” é um pouco mais sutil. Por “esotérico”, Tiryakian compreende aqueles sistemas de crenças religioso-filosófica que estão subjacentes em técnicas e práticas ocultas; ou seja, o termo se refere aos mais abrangentes levantamentos da natureza ou do cosmos, às reflexões epistemológicas e ontológicas da realidade última, levantamentos que constituem a soma de conhecimentos necessários às práticas ocultas. (Eliade)