De onde partiu esta sacralização da macieira? É da Europa ocidental e setentrional? É da Grande Montanha?
As tradições helênicas demonstram, de uma maneira indubitável, que é preciso olhar para Ilha Santa. Quando Hércules quer conquistar as maçãs sobrenaturais, ou maçãs de ouro, sanção de uma das mais altas modalidades iniciáticas, ele se dirige ao Velho do Mar, Nereu, para lhe arrancar o segredo que deve guiar em sua empresa. Estamos portanto de imediato lançados em uma faceta cultural originária da civilização nórdica: a luta do herói contra Nereu, quer dizer contra o iniciador de transformações (representado por vezes sob a forma de um homem cuja parte inferior do corpo termina em forma de peixe) é muito característica. Uma vez munido das indicações necessárias, Hércules se põe a caminho, para ganhar o país das Hespérides. Este país se situa por vezes no extremo norte, além do oceano, quer dizer no país dos Hiperbóricos, por vezes no ocidente. Mas, de toda maneira, é sempre para a Ilha Santa, e não para a Grande Montanha, menos ainda para a Índia, que voltavam os gregos para aceder à macieira primordial. O caso teria sido certamente diferente se a maçã da vida imortal tivesse se difundido em outra direção; jamais que não se teria a ideia de fixar os olhos sobre as regiões célticas.
Podemos, portanto, ter por certo que a tradição da divina macieira plantada na ilha das origens veio de alhures na Índia; e ela partiu não da região caucasiana-armeniana, mas do grande centro norte-ocidental. A Grande Montanha parece ter propagado como vegetal de vida, a vinha. Esta não desempenhou jamais, na imagem do mundo, o mesmo papel que a macieira; o que indica que esta árvore, ligada à civilização da Ilha Santa, conservou seu nível eminente. Nos países onde ele não existia, assimilou-se verbalmente à maçã os frutos de outras árvores; ela se tornou assim a designação genérica de frutos (em latim, por exemplo, pomum é, para estes últimos, o nome de conjunto, e Pamona é a deusa de todas as árvores frutíferas). Muito significativo igualmente é o fato que em grego o carneiro quer dizer o primeiro animal domesticado pelos pastores nórdicos, leva o mesmo nome que a maçã; o que denota entre eles uma equivalência do mana iniciático.
Segundo uma tradição que relata Ferécides, as maçãs de ouro tenham sido dados pela Terra (= Mãe Divina) a wp-pt:Hera quando de sua união com Zeus. Hera as plantou no «céu», no jardim dos deuses. Estas indicações atestam, por uma outra via, a antiguidade da macieira como Árvore de Vida; a Terra, com efeito, age aqui enquanto iniciadora, quer dizer como Digestor divinizante, o que, o indicamos, foi seu papel, na Idade de Prata, na civilização matriarcal; como a cultura do solo cabendo então às mulheres, é Hera que transplanta a macieira no recinto sagrado, no «céu» da ilha ou da montanha santa. Estes dados são coerentes e muito reveladores. Assinalam, por outro lado, que desde o início, as maçãs iniciáticas estavam ligadas ao sacramento de sexualidade. Esta conexão jamais desapareceu: a maçã foi ao mesmo tempo fruto da vida imortal e fruto do himeneu, porque a união sexual (= a hierogamia) formava o coroamento, o ponto culminante, dos ritos; é, com efeito, para acasalamento sacrossanto que se restaurava com plenitude esta unidade do mundo dinâmico, que era a meta da iniciação.