Um resultado extremamente surpreendente da pesquisa contemporânea sobre esse assunto foi a descoberta da função importante que a magia e o esoterismo hermético exerceram, não só durante a Renascença italiana, mas também como fator de influência no triunfo da nova astronomia de Copérnico, ou seja, da teoria heliocêntrica do sistema solar. Num livro recente, Giordano Bruno and the Hermetic Tradition, Frances A. Yates analisou de maneira brilhante as profundas implicações que o entusiasmo exaltado pelo hermetismo exerceu nesse período. Este entusiasmo revela o anseio do homem renascentista por uma revelação “primordial” que incluísse não só Moisés e Platão, mas também a Magia e a Cabala e, mais que tudo, as religiões misteriosas do Egito e da Pérsia. O fato revela também unia insatisfação profunda com relação à Teologia medieval e com a concepção medieval do homem e do universo, uma reação contra o que podemos chamar uma civilização “provinciana”, isto é, puramente Ocidental, e um anseio por uma religião universal, trans-histórica, “mítica”. Durante dois séculos, o Egito e o hermetismo, ou seja, a magia egípcia e o esoterismo, obcecaram vários teólogos e filósofos – tanto os crentes quanto os céticos e os criptoateus. O fato de Giodano Bruno ter recebido entusiasticamente as descobertas de Copérnico não se deveu em primeiro lugar à sua importância científica e filosófica, mas ao fato de ter ele compreendido o profundo significado religioso e mágico do heliocentrismo. Enquanto estava na Inglaterra, Bruno profetizou a volta iminente da religião oculta dos antigos egípcios, conforme expressa em Asclepios, um texto hermético famoso. Bruno se sentia superior a Copérnico, porque, enquanto o último via sua teoria exclusivamente do ponto de vista matemático, o primeiro podia interpretar o diagrama celestial de Copérnico como um hieróglifo dos mistérios divinos. [Eliade]