Pierre Gordon: A IMAGEM DO MUNDO NA ANTIGUIDADE
Na Índia, o onfalos e a síntese do cosmo é o sacrossanto Meru. Este vocábulo significa, segundo Burnouf, que tem um lago. Este lago é, com efeito, essencial. É formado pela água da divina Ganga, e leva o nome de Manasa-Sarovara (= excelente lago do espírito). É Brama que o criou de seu pensamento. A Montanha onde se situa marca o mais alto ponto da terra, aquele onde se alcança o céu. O Meru é, ao mesmo tempo, o centro de todas as coisas. É também o polo norte, quer dizer o polo fixo da terra. A água da vida se reúne na bacia superior da montanha; ela desce dos Sete Sábios ou Sete Rishis da Grande Ursa (que eram, primitivamente, sete ursos divinos); esta água sobrenatural, que reteve sempre seu caráter feminino neolítico, é a Ganga (o Ganges), fonte e rio transcendente, que corre do extremo norte para a Montanha dos deuses. Ela faz sete vezes a volta do Meru, e vai em seguida se despejar nos quatro lagos, postos sobre as quatro elevações que cercam a elevação das origens e lhe servem de contraforte para as quatro regiões do espaço. Sobre cada uma destes montes-sustentadores, se eleva, em um jardim encantado, perto de seu lago divino, uma árvore maravilhosa, que leva o nome genérico de Kalpavrikcha (Kalpadrouma ou Kalpatarou = árvore dos desejos, ou árvore dos períodos). Estas quatro árvores da juventude e da beatitude, graças a seu mana transcendente, conferem a vida sem fim e permitem trama perpétua do pensamento ao ser, de sorte que todos os quereres são instantaneamente realizados. Sobre o Meru ele mesmo cresce a árvore cósmica primordial, cujas quatro árvores de vida vizinhas são emanações: este vegetal das origens é a macieira, na espécie da macieira-rosa: jambu — a árvore cujo fruto (bû) serve para comer (jam), ou seja, é bom para comer. — Alimentados pelas águas que a Ganga aporta do lago supremo, os quatro lagos das quatro direções da cruz espacial dão nascimento à quatro rios terrestres, que se evadem pela goela de quatro animais divinos. — Estes quatro rios por sua vez banham as quatro grandes regiões da extensão, vistas como ilhas-continentes (maha-dvipas = grandes ilhas, grandes continentes); eles têm sua embocadura nos quatro mares; a ;este, ao sul, a oeste, e ao norte do Meru. Cada uma das quatro montanhas, e cada um dos animais sagrados que dão origem aos rios, são feitos de um metal diferente e possuem uma Cor especial (estas cores são as mesmas que aquelas que caracterizavam no início as quatro castas da Índia): a leste, branco ou prata, que corresponde aos brâmanes; — ao sul, vermelho ou cobre: Kshatriyas; a oeste: amarelo, cor de ouro: Vaicyas; ao norte, marrom-negro, ou de ferro: Shudras). Por outro lado os quatro lagos, os quatro rios e os quatro oceanos comportam líquidos diversos, em relação, eles também, com as quatro castas; estas, à quais se associam todo os povos da terra, provêm a princípio dos quatro rios originários do Meru. Discernimos assim, por trás desta cosmogonia grandiosa, um rito de criação análogo àquele dos oito wp-en:Cabires que saem de uma Caverna e se sacralizam pela água de vida.