Nisargadatta (NMCA) – corpo

Todas as atividades ocorrem por causa da mente e dos cinco sentidos. O problema está na identificação com o corpo e o nome atribuído a ele. Você se considera o que não é. Assim como usamos uma camisa, também usamos um nome para as atividades mundanas. O Si tem uma cobertura semelhante, conhecida como corpo, que falsamente consideramos ser o Si. Esse é o entendimento e a crença geral sobre nós mesmos.

O corpo tem quatro corpos: grosseiro, sutil, causal e grande causal. O corpo não é de forma alguma substancial, mas é simplesmente composto da essência alimentar (sattva guna). O alimento lhe dá nutrição e, portanto, forma, e a qualidade dessa essência alimentar é a consciência. O corpo depende dos cinco elementos (novamente: terra, água, fogo, espaço e éter) e da essência alimentar. A fé, o amor-próprio, inerentes à consciência, tornam possíveis as ações do corpo.

No momento, você está contando com o corpo. Enquanto a essência estiver presente, você tem o conhecimento de que existe. A essência alimentar forma o corpo do ser vivo, e isso se aplica a toda a criação — desde um verme e uma formiga até Brahma (Deus como criador). Novamente, o corpo é composto de material alimentar no qual existe a qualidade da consciência, ou entidade (beingness), e todos os seres vivos têm o senso de ser e o conhecimento de que o mundo existe. Isso se deve à essência alimentar pura.

O corpo assumiu uma forma e foi considerado homem ou mulher. O gênero se aplica somente enquanto a forma do corpo durar — quando não há forma, não há gênero. É a mente que reivindica a forma do corpo como sua forma. Você acha que o corpo é sua riqueza, seu tesouro, mas, na realidade, ele é uma calamidade que você sofre desnecessariamente.

Os cuidadores ensinam seus filhos e essa educação informa suas ações, bem como quaisquer consequências associadas. Dessa forma, agimos no mundo para obter o resultado desejado. Na realidade, Aquele de quem tudo acontece não tem nome ou forma. O ser é o mesmo em todos os corpos, mas a criança aceita um gênero de acordo com as características do corpo.

Por causa da identidade de nosso corpo, somos movidos pelo “eu” e pelo “meu”, tornando-nos ricos em apegos e achando difícil a aceitação da verdade. Mesmo que um guru tente ensinar ao discípulo a importância da plenitude, o discípulo não consegue compreendê-la ou apreciá-la. Você tem todas as experiências necessárias, mas está envolvido nas aparências (e desfruta de seu envolvimento).

Realizamos atividades para obter frutos e recompensas. Embora o sustento na forma de alimento seja a principal necessidade do corpo, o esforço, na realidade, não é necessário para a sobrevivência do verdadeiro Si. O Si é ilimitado e não pode ser diminuído. Mas, devido à existência do corpo e dos pensamentos da mente, nós nos identificamos como o corpo.

Da mesma forma que todos nós usamos calçados de vários tipos e sabemos que não somos os calçados, também devemos saber que não somos a pele do corpo. Eu faço uso do corpo e cuido dele, mas ele não é a minha forma. Nossa consciência, por não ter pele, é mais sutil, mais transparente e mais limpa do que o espaço.

Por meio da bhakti ioga, da devoção ou da iniciação de um guru, a alma individual passa a saber que não é o corpo. Ela se torna livre de Shiva e sagrada. Enquanto o que a mente diz for tomado como verdade, a alma individual permanece. Atma — Com-ciência Pura — é quem e o que somos. Esse “eu sou” está presente no corpo, muitas vezes sem saber. Sem a existência do Si no corpo, não pode haver experiência alguma.

Nisargadatta Maharaj (1897-1981)