Nisargadatta (NMIam) – abandonar toda a individualidade

P: Por acaso, conheço muitos jovens vindos do Ocidente e percebo que há uma diferença básica quando os comparo aos indianos. Parece que a psique deles (antahkarana) é diferente. Conceitos como “eu”, “realidade”, “mente pura”, “consciência universal” são facilmente captados pela mente indiana. Eles soam familiares, têm um sabor doce. A mente ocidental não responde, ou simplesmente os rejeita. Ela os concretiza e quer utilizá-los imediatamente a serviço dos valores aceitos. Esses valores geralmente são pessoais: saúde, bem-estar, prosperidade; às vezes são sociais — uma sociedade melhor, uma vida mais feliz para todos; todos estão relacionados a problemas mundanos, pessoais ou impessoais. Outra dificuldade que encontramos com frequência ao conversar com os ocidentais é que, para eles, tudo é experiência — assim como querem experimentar comida, bebida e mulheres, arte e viagens, eles também querem experimentar o Yoga, a realização e a liberação. Para eles, é apenas mais uma experiência, que pode ser obtida por um preço. Eles imaginam que essa experiência pode ser comprada e barganham o custo. Quando um guru faz uma cotação muito alta, em termos de tempo e esforço, eles procuram outro, que oferece condições de parcelamento, aparentemente muito fáceis, mas repletas de condições impossíveis de serem cumpridas. É a velha história de não pensar no macaco cinza ao tomar o remédio! Nesse caso, é não pensar no mundo, “abandonar toda a individualidade”, “extinguir todos os desejos”, “tornar-se um celibatário perfeito” etc. Naturalmente, há uma grande trapaça em todos os níveis e os resultados são nulos. Alguns Gurus, em puro desespero, abandonam toda a disciplina, não prescrevem condições, aconselham a ausência de esforço, a naturalidade, a simples vida em com-ciência passiva, sem qualquer padrão de “deve” e “não deve”. Se não estão enojados, estão entediados. Eles têm excesso de autoconhecimento, querem outra coisa. — M: Que eles não pensem em si mesmos, se não gostarem. Que fiquem com um guru, observem-no, pensem nele. Logo eles experimentarão um tipo de bem-aventurança, completamente nova, nunca experimentada antes, exceto, talvez, na infância. A experiência é tão inconfundivelmente nova que atrairá sua atenção e criará interesse; uma vez despertado o interesse, seguir-se-á a aplicação ordenada. EU SOU ISSO: 67

 

Nisargadatta Maharaj (1897-1981)