P: Como o Absoluto é experienciado? — M: Não é um objeto a ser reconhecido e guardado na memória. Ele está no presente e no sentimento. Tem mais a ver com o “como” do que com o “o quê”. Está na qualidade, no valor; sendo a fonte de tudo, está em tudo. EU SOU ISSO: 20
P: Somos aconselhados a adorar a realidade personificada como Deus ou como o Homem Perfeito. Dizem que não devemos tentar adorar o Absoluto, pois é muito difícil para uma consciência centrada no cérebro. — M: A verdade é simples e está aberta a todos. Por que você complica? A verdade é amorosa e amável. Ela inclui todos, aceita todos, purifica todos. A inverdade é que é difícil e uma fonte de problemas. Ela sempre quer, espera, exige. Por ser falsa, ela é vazia, sempre em busca de confirmação e segurança. Ela tem medo e evita a investigação. Ele se identifica com qualquer apoio, por mais fraco e momentâneo que seja. O que quer que receba, ele perde e pede mais. Portanto, não tenha fé no consciente. Nada que você possa ver, sentir ou pensar é assim. Mesmo o pecado e a virtude, o mérito e o demérito não são o que parecem. Geralmente, o ruim e o bom são uma questão de convenção e costume e são evitados ou bem-vindos, de acordo com a forma como as palavras são usadas. EU SOU ISSO: 21
P: Ainda assim, o ponto principal parece ME escapar. Posso admitir que o mundo no qual vivo, ME movo e tenho meu ser é de minha própria criação, uma projeção de mim mesmo, de minha imaginação, no mundo desconhecido, o mundo como ele é, o mundo da “matéria absoluta”, qualquer que seja essa matéria. O mundo da minha própria criação pode ser bem diferente do mundo real, assim como a tela do cinema é bem diferente das imagens projetadas nela. No entanto, esse mundo absoluto existe, independentemente de mim mesmo. — M: É verdade, o mundo da Realidade Absoluta, sobre o qual sua mente projetou um mundo de irrealidade relativa, é independente de você, pela simples razão de que ele é você mesmo. EU SOU ISSO: 44
P: O Absoluto ou a Vida de que você fala é real ou uma mera teoria para encobrir nossa ignorância? — M: Ambos. Para a mente, uma teoria; em si mesmo, uma realidade. É a realidade em sua rejeição espontânea e total do falso. Assim como a luz destrói a escuridão por sua própria presença, o absoluto destrói a imaginação. Ver que todo conhecimento é uma forma de ignorância é, por si só, um movimento da realidade. A testemunha não é uma pessoa. A pessoa passa a existir quando há uma base para ela, um organismo, um corpo. Nele, o absoluto é refletido como com-ciência. A com-ciência pura se torna com-ciência-de-si. Quando há um eu, a com-ciência-de-si é a testemunha. Quando não há um eu para testemunhar, também não há testemunho. Tudo isso é muito simples; o que complica é a presença da pessoa. Veja que não existe uma pessoa permanentemente separada e tudo ficará claro. Com-ciência — mente — matéria — são uma única realidade em seus dois aspectos, imóvel e móvel, e os três atributos de inércia, energia e harmonia. EU SOU ISSO: 50
P: Existe alguma diferença entre a experiência do Ser (atman) e do Absoluto (brahman)? — M: Não pode haver experiência do Absoluto, pois ele está além de toda experiência. Por outro lado, o eu é o fator de experiência em toda experiência e, portanto, de certa forma, valida a multiplicidade de experiências. O mundo pode estar cheio de coisas de grande valor, mas se não houver ninguém para comprá-las, elas não terão preço. O Absoluto contém tudo o que é passível de ser experimentado, mas sem a experiência elas não são nada. Aquilo que torna a experiência possível é o Absoluto. O que a torna real é o Ser. EU SOU ISSO: 69
P: Não alcançamos o Absoluto por meio de uma gradação de experiências? Começando com a mais grosseira, terminamos com a mais sublime. — M: Não pode haver experiência sem desejo por ela. Pode haver gradação entre os desejos, mas entre o desejo mais sublime e a liberdade de todo desejo há um abismo que deve ser atravessado. O irreal pode parecer real, mas é transitório. O real não tem medo do tempo. EU SOU ISSO: 69
P: Falaram-nos sobre carma e reencarnação, evolução e Yoga, mestres e discípulos. O que devemos fazer com todo esse conhecimento? — M: Deixe tudo isso para trás. Esqueça. Sigam em frente, livres de ideias e crenças. Abandonem todas as estruturas verbais, toda verdade relativa, todos os objetivos tangíveis. O Absoluto só pode ser alcançado por meio da devoção absoluta. Não seja indiferente. EU SOU ISSO: 70
P: Onde entra o Absoluto? — M: O Absoluto é o local de nascimento da percepção. Ele torna a percepção possível. Mas o excesso de análise não leva a lugar algum. Há em você o núcleo do ser que está além da análise, além da mente. Você só pode conhecê-lo em ação. Expresse-o na vida cotidiana e sua luz se tornará cada vez mais brilhante. A função legítima da mente é dizer a você o que não existe. Mas se você quiser conhecimento positivo, deve ir além da mente. EU SOU ISSO: 70
P: O tempo consome o mundo. Quem é a testemunha do tempo? — M: Aquele que está além do tempo — o Inominável. Uma brasa incandescente, movida de um lado para o outro com rapidez suficiente, aparece como um círculo incandescente. Quando o movimento cessa, a brasa permanece. Da mesma forma, o “eu sou” em movimento cria o mundo. O “eu sou” em paz se torna o Absoluto. Você é como um homem com uma lanterna elétrica andando por uma galeria. Você pode ver apenas o que está dentro do feixe. O resto está na escuridão. EU SOU ISSO: 72
P: Nomes, formas, ideias e convicções, mas não a verdade. Se não fosse por você, eu teria aceitado a relatividade de tudo, inclusive da verdade, e teria aprendido a viver com suposições. Mas então eu o encontro e o ouço falar do Absoluto como algo que está ao meu alcance e também como algo extremamente desejável. Palavras como paz, bem-aventurança, eternidade, imortalidade chamam minha atenção, pois oferecem liberdade da dor e do medo. Meus instintos inatos: busca de prazer e curiosidade são despertados e começo a explorar o reino que você abriu. Tudo parece muito atraente e, naturalmente, eu pergunto. Isso é possível de ser alcançado? É real? — M: Você é como uma criança que diz: Prove que o açúcar é doce e só então eu o terei. A prova da doçura está na boca, não no açúcar. Para saber que é doce, você precisa prová-lo, não há outra maneira. É claro que você começa perguntando: É açúcar? É doce? e aceita minha garantia até provar. Só então todas as dúvidas se dissolvem e seu conhecimento se torna inabalável e de primeira mão. Não peço que você acredite em mim. Apenas confie em mim o suficiente para começar. Cada passo prova ou refuta a si mesmo. Você parece querer que a prova da verdade preceda a verdade. E qual será a prova da prova? Veja, você está caindo em uma regressão. Para cortá-la, você deve parar de pedir provas e aceitar, apenas por um momento, algo como verdadeiro. Não importa realmente o que seja. Pode ser Deus, ou eu, ou seu próprio si. Em cada caso, você aceita algo, ou alguém, desconhecido como verdadeiro. Agora, se você agir de acordo com a verdade que aceitou, mesmo que por um momento, logo será levado ao próximo passo. É como subir em uma árvore no escuro — você só pode alcançar o próximo galho quando estiver empoleirado no anterior. Na ciência, isso é chamado de abordagem experimental. Para provar uma teoria, você realiza um experimento de acordo com as instruções operacionais, deixadas por aqueles que fizeram o experimento antes de você. Na busca espiritual, a cadeia de experimentos que temos de fazer é chamada de Yoga. EU SOU ISSO: 74
P: Mas alcançaremos o atemporal no devido tempo? — M: No devido tempo, voltaremos ao ponto de partida. O tempo não pode nos levar para fora do tempo, assim como o espaço não pode nos levar para fora do espaço. Tudo o que se consegue com a espera é mais espera. A perfeição absoluta está aqui e agora, não em algum futuro, próximo ou distante. O segredo está na ação — aqui e agora. É o seu comportamento que o cega para si mesmo. Desconsidere tudo o que você pensa que é e aja como se fosse absolutamente perfeito — qualquer que seja sua ideia de perfeição. Tudo o que você precisa é de coragem. EU SOU ISSO: 82
P: Você estava dizendo outro dia que a raiz de sua realização foi a confiança em seu guru. Ele lhe assegurou que você já era a Realidade Absoluta e que não havia mais nada a ser feito. Você confiou nele e deixou tudo como estava, sem esforço, sem se esforçar. Agora, minha pergunta é: sem a confiança em seu guru, você teria se dado conta? Afinal de contas, o que você é, você é, quer sua mente confie ou não; a dúvida obstruiria a ação das palavras do guru e as tornaria inoperantes? — M: Você disse isso — elas teriam se tornado inoperantes — por um tempo. EU SOU ISSO: 83
P: Todo conhecedor do Ser se torna um Guru, ou alguém pode ser um conhecedor da Realidade sem ser capaz de levar outros a ela? — M: Se você sabe o que ensina, pode ensinar o que sabe. Mas a Realidade Absoluta está além de ambos. Os autodenominados gurus falam de amadurecimento e esforço, de méritos e realizações, de destino e graça; tudo isso são meras formações mentais, projeções de uma mente viciada. Em vez de ajudar, elas obstruem. EU SOU ISSO: 83