Tradução do original em inglês de Maria Helena Rodrigues de Carvalho
Há muitas Cabalas, e é difícil acreditar que não possamos atingir a união com Deus, seja o que for que se entenda por isso, a não ser que estejamos familiarizados com o alfabeto hebraico.
Há Erros do Caminho, Erros da Estalagem e Erros da Caverna. São Erros do Caminho aqueles em que o próprio caminho é tomado pela sua finalidade. Erros da Estalagem são aqueles em que metade do caminho é tomado pelo todo. São Erros da Caverna aqueles em que a caverna, que é a base do Castelo, é tomada pelo próprio Castelo, (é tomada pela entrada do Castelo).
Estes erros são comuns a todos os caminhos e o da Gnose não está mais isento deles do que os caminhos místicos e mágicos.
Posso passar sem o ascetismo, mas não sem a verdade, nem creio que Deus se me não manifeste a não ser que eu fique sentado, imóvel, durante cinco horas, ou que seja capaz de respirar naturalmente por qualquer das narinas à escolha.
O facto, porém, é que, qualquer que seja o caminho que tomemos, não o devemos fazer antes de termos percorrido os graus preparatórios, os graus de neófito. O Misticismo procura transcender o intelecto (pela intuição), a Magia aspira a transcender o intelecto pelo poder; a Gnose, a transcender o intelecto por um intelecto superior. Mas para transcender uma coisa devidamente, é preciso primeiro passar por essa coisa. A vantagem do caminho gnóstico é que há menos tentação de alcançar o intelecto superior sem passar pelo inferior — uma vez que ambos são intelecto e há uma diferença de quantidade entre um e outro — do que nas vias mística e mágica, onde há uma diferença de qualidade, não de quantidade, entre emoção e intelecto, entre a vontade e o intelecto.
(Esp. 54A-51)
Oc.
Há três tipos distintos de iniciação — simbólica ou exterior, intelectual (exterior à interior) e vital (interior). Nas iniciações simbólicas, que reforçam a vontade e que, portanto, conduzem à Magia como realização, o candidato não passa por graus de entendimento, mas por graus de intuição, por assim dizer; ele está continuamente à superfície e na aparência das coisas, e, embora ele atinja o grau mais elevado, qualquer que seja a ordem ou ordens por que prossiga, esse grau mais elevado não precisa de corresponder (geralmente não corresponde) a qualquer coisa como um grau paralelo em qualquer das iniciações interiores. Nas iniciações intelectuais, que reforçam o intelecto e que, portanto, conduzem ao Misticismo como realização, o candidato passa por estádios de entendimento, mas não por estádios de vida; ele pode saber muito, mas não precisa de viver aquilo que conhece no mesmo plano em que o conhece. Nas iniciações vitais, que reforçam a emoção e, portanto, conduzem à Alquimia como realização, o candidato vive aquilo que sente e sabe.
(Isto está certo?). Não será antes que estas iniciações diferem numa outra medida, enquanto a diferença entre Magia, Misticismo e Alquimia (então e a Gnose?) se encontra noutro plano de interpretação? Estas iniciações não são antes físicas, etéreas e astrais? (ou, talvez, etéreas,, astrais e espirituais, ou astrais, mentais e espirituais?).
— Possivelmente há três modos pelos quais as iniciações podem ser interpretadas: (1) os três caminhos de realização, mágico, místico e gnóstico, (2) os três estádios de realização, Neófito, Adepto e Mestre, (3) os três graus de realização, astral, mental e espiritual.
(Esp. 54A-52)
Oc.
Mas o significado real da iniciação é que este mundo visível em que vivemos é um símbolo e uma sombra, que esta vida que conhecemos através dos sentidos é uma morte e um sono, ou, por outras palavras, que o que vemos é uma ilusão. A iniciação é o dissipar — um dissipar gradual, parcial — dessa ilusão. A razão do seu segredo é que a maior parte dos homens não está adaptada a compreendê-lo e, portanto, compreendê-lo-á mal e confundi-lo-á, se for tornado público. A razão de ele ser simbólico é que a iniciação não é um conhecimento, mas uma vida, e o homem deve, portanto, descobrir por si o que mostram os símbolos, porque, assim, viverá a vida deles, não se limitando a aprender as palavras em que são mostrados.
Dizer que Cristo é um símbolo do Sol é pôr o processo iniciatório ao invés. É o Sol que é o símbolo de Cristo. Por outras palavras, Cristo é a realidade e o Sol a ilusão, Cristo é a luz, e o Sol a sombra. (O Inefável é a luz; o GA, corpo; o mundo, sombra — a sombra projetada pelo denso quando iluminado pelo subtil. A luz está na circunferência e a sombra lançada para o centro. Isto tem alguma coisa a ver com o pt. dentro do c.?) (Cf. a ideia cabalística do En Soph retirando-se para dentro, manifestando-se dentro e não fora).
Iniciar um homem por um ritual complicado e mais ou menos impressivo e depois confiar-lhe, sob promessas de segredo e juras mais ou menos terríveis, que a Primavera vem depois do Inverno — isto nunca podia ter sido o plano de qualquer corpo ou sistema iniciático. Mas tê-lo-ia sido ensinar o contrário — que a Primavera, seguindo-se ao Inverno, é um símbolo de coisas maiores, que o natural é uma figuração do sobrenatural.
Isto, feito com mais ou menos pormenor, em símbolo, depois em doutrina, depois em revelação, é a essência de todas as verdadeiras iniciações, de Elêusis a Kilwinning.
Ordens de iniciação: (1) através de símbolos e (mais tarde) explicações em si próprias simbólicas — cf. Pike; (2) através de doutrina simbólica, verdadeira ao seu nível, e explicações, já não simbólicas; (3) através de comunicação direta, embora não necessariamente falada ou expressa.
Não digo que estas coisas representem uma verdade e não digo que o não façam. Digo que este é o significado da iniciação, que é assim que a iniciação existe e que é para estes fins que ela existe.
(Esp. 54A-55)