A partir dessas análises, conclui-se que é o sujeito consciente que “faz de si mesmo um objeto” (ātmānaṃ jñeyīkaroti), sem, contudo, reduzir-se a ele, pois permanece “não-objeto” (ajñeya). É capaz de extroversão (bahirmukhatva), em outras palavras, manifesta-se a si como fora de si ao se manifestar como um objeto, mas essa extroversão, que é a aparência, existe apenas em virtude da introversão fundamental (antarmukhatva) da consciência: é porque ela nunca sai de si mesma para se perder em uma exterioridade inconsciente que a consciência pode ser consciência da exterioridade. Da mesma forma, é por ser perfeitamente independente do outro que ela pode ser intencional, ou seja, alcançar o Outro: a intencionalidade (aunmukhya) pressupõe liberdade, “pois aquilo que não é um Si, [em outras palavras,] que é inerte (jaḍa), não se orienta em direção a (nonmukhībhavati) um objeto de conhecimento”. O objeto, inerte, não é um Si, porque é apenas ele mesmo: fechado para sempre em uma identidade estática e delimitada, é incapaz de se tornar outro sem deixar de ser — incapaz até mesmo de se voltar para qualquer Outro, porque estender a mão para o Outro já seria perder-se nele. A consciência, por outro lado, é capaz de se extroverter e confrontar o Outro precisamente porque é perfeitamente independente dele, e é perfeitamente independente dele porque o Outro nunca é outra coisa senão ela mesma se manifestando como o Outro. Longe de ser uma prova da dependência da consciência em relação ao Outro que é o objeto, a intencionalidade, portanto, revela-se possível apenas porque a consciência se torna intencional, consentindo em se tornar passiva em relação ao objeto passivo na forma em que se manifesta ativamente. A heteronomia ou determinação pelo Outro (pāratantrya) aparece, portanto, como a manifestação da liberdade soberana ou autonomia (svātantrya) da consciência: É por ser puro dinamismo que ela se torna um objeto sem se deixar engolfar pela passividade do objeto ou se perder no Outro que apenas brinca de ser, “para a consciência (vimarśa), que é capaz de suportar tudo (sarvaṃsaha), tem uma natureza tal que transforma em Si (ātmīkaroti) aquilo que, não obstante, é Outro (para), e que transforma em Outro (parīkaroti) o Si (ātman); que faz deles uma única [entidade], e anula seu par unificado”.
É verdade que essa consciência soberanamente livre se aliena: brincando de ser o Outro, é apanhada no jogo e perde a plena consciência de si mesma; se individualiza em uma forma limitada de si mesma porque, esquecendo-se de sua liberdade, chega a tomar o Si pelo Outro (quando não mais apreende o objeto como um aspecto de sua própria manifestação, mas como uma entidade independente dele, svatantra), e o Outro pelo Si (quando identifica um objeto particular assim isolado com o dinamismo consciente do qual ainda tem uma experiência incompleta). Mas essa alienação não é mais do que o livre jogo do Si: a consciência só se aliena porque se torna alienada, só é subjugada porque concorda em parecer subjugada, por meio de uma prodigiosa — e ainda assim muito comum — faculdade da consciência de esconder de si mesma o que, de outra forma, ela sabe. Esse “poder de māyā” (māyāśakti) é prodigioso no sentido de que é o desempenho do ato mais difícil de realizar (atidurghaṭa), uma vez que a consciência, que é por natureza automanifestante (svaprakāśatva), consegue erguer, por assim dizer, uma tela impossível entre si mesma e si mesma, lançando um véu (āvaraṇa) que a impede de perceber a si mesma como é. Não é menos banal, no sentido de que todo sujeito empírico já o experimentou, na “distração” ou “falta de atenção” (anādara) em seus vários graus: todo sujeito consciente é capaz de não perceber o que vê e, mais ainda, de não querer saber o que sabe — no jogo, por exemplo. Todos sabem, além disso, que podem ser pegos no jogo da ficção, esquecendo por um tempo o que, no entanto, sempre sabem de certa forma — que é apenas ficção e que estão voluntariamente se deixando levar. O saṃsāra, da mesma forma, é aquela “fábula” (kathā) ou “teatro” (nāṭya) cuja natureza fabulosa ou teatral a consciência absoluta finge esquecer — e o sujeito empírico não é outra coisa senão aquela liberdade que finge se alienar.