Riffard Catarismo

Pierre Riffard — OS CÁTAROS
Excertos de “O ESOTERISMO”, trad. Yara Azeredo Merino
OS CÁTAROS (1167 ou 1172 — 1330?)
Os templários são ou não esotéricos? Questão de natureza. Questão de grau: os cátaros são muito mais esotéricos (do que místicos, ou espirituais ou religiosos)?

Muitos elementos são incontestavelmente esotéricos no catarismo. Os fiéis são divididos em crentes, condenados à reencarnação, e em perfeitos (ou bons-hommes), ministros homens ou mulheres do culto. A essência da doutrina conduz aos mistérios maniqueístas e repousa numa hermenêutica. Próximo da iniciação, o consolamentum se apresenta como um batismo sem água ou óleo, elementos considerados muito materiais; como um batismo que representa a consolação trazida pelo Espírito Santo aos apóstolos no dia de Pentecostes. A preparação desse rito para Perfeitos (que é necessário distinguir do consolamentum dos mortos) exigia — como nas velhas provas de iniciação — um jejum três vezes por semana, continência, vegetarismo, resistência à fadiga e a promessa de dizer sempre a verdade. Nas grutas de Sabarthez de Ussat se encontram os símbolos espirituais, e a organização das grutas, seu nome (como “Belém”) mostra que os cátaros se serviam delas como locais de ensinamento.

Nossas principais fontes escritas sobre o catarismo são os textos cátaros, em particular Le livre des deux principes (O livro dos dois princípios) de Jean de Lugio, defensor, diz-se, de um dualismo absoluto (algo que duvido, pois tal doutrina não alcança o objetivo). Porém, o catarismo, austero por natureza, teve expressões mais sensíveis. Entre os poetas da Idade Média, trovadores, numerosos foram aqueles que defenderam o catarismo: Guilhem Montanhagol (morto em 1258), Peire Cardenal (morto por volta de 1274), mas também Ademar Jordan, Ademar de Roquefixade, Arnaut de Comminges, Faidit de Belestar, Guilhem de Durfort, Peire Rogier de Mirepoix, Bernât de Rovenac, Raimon Jordan, Mir Bernât, Aimeric de Péguilhan, Guilhem Figueira (lista de R. Nelli). Muitos contos, lendas e costumes do Languedoc levam ainda hoje ao catarismo. O castelo de Montségur ainda existe e seu ‘tesouro’ encontra-se intacto!

Al cap de set cent ans verdegeo le laurel (ao termo de setecentos anos verdejou o loureiro) diz um provérbio cátaro. Os cátaros foram exterminados em 1244. Em 1950, Déodat Roche fundava a Sociedade para a Memória e o Estudo dos Cátaros. O catarismo renascia.

Pierre Riffard