Romantismo, delimitação segundo Dilthey

(Gusdorf1982)

A historiografia serena [do Romantismo] começa em 1865 com o estudo de Dilthey (1833-1911) sobre Novalis, uma interpretação abrangente da breve carreira do poeta, que desenvolve os aspectos fundamentais de sua visão de mundo. O estudo sobre Novalis, junto com outros textos dedicados a Lessing, Goethe e Hölderlin, formará a coletânea Das Erlebnis und die Dichtung (Experiência de Vida e Criação Poética), publicada pela primeira vez em 1905, oferecendo uma interpretação global do romantismo literário. Uma extensa biografia de Schleiermacher (Leben Schleiermachers), inacabada — pois não avança além de 1806 —, apresenta uma minuciosa evocação da vida do primeiro grupo romântico, baseada em documentos que acompanham quase dia a dia a existência dos envolvidos.

Dilthey, pioneiro da “crítica da razão histórica”, recusa-se a definir uma essência do romantismo, mesmo que limitado a um breve período cronológico. “Nada é mais falso do que acreditar que se trata, no caso do romantismo, de uma única direção de pensamento; com poucas ressalvas, o romantismo nada mais é do que a geração que surgiu nos anos 1790 e atravessou, entre 1790 e 1800, esse período decisivo da vida que vai dos vinte aos trinta anos.” Reduzido a uma faixa etária, o romantismo seria característico do grupo de Jena, centrado em torno do Athenäum, sendo Jena, depois de Weimar, “a segunda capital do espírito alemão”. Dilthey enfatiza o contexto histórico em que esse grupo de jovens poetas estava inserido: a insignificância da vida econômica, a ausência de grandes cidades. Ele destaca a falta de um programa comum entre eles: “Os pontos de partida de um August Wilhelm Schlegel e de um Hardenberg [Novalis], de um Friedrich Schlegel e de um Tieck eram completamente diferentes. Sem dúvida, Novalis estava espiritualmente muito mais próximo de Hölderlin do que de seu amigo A. W. Schlegel. Tieck nunca teve com Friedrich Schlegel mais do que pontos de contato superficiais.” Surge então a questão: como uma aliança tão estreita pôde se formar, uma confraria, e até mesmo uma escola?

Para Dilthey, para quem a unidade do romantismo era resultado de uma ilusão de ótica, o termo já dizia demais, e ele se esforçava para não usá-lo. Em sua visão, o movimento de renovação poética se encerra nos primeiros anos do século XIX — talvez por isso ele não tenha avançado em sua biografia de Schleiermacher. Com a dispersão da “Hanse dos poetas”, a fase criativa estava concluída.

Essas hesitações não são compartilhadas pelo outro fundador da historiografia romântica, Rudolf Haym, que intitula sua grande obra Die Romantische Schule (A Escola Romântica, 1870). Para ele, houve de fato uma escola, cuja história Haym examina minuciosamente. Ele também se interessa pela “geração” definida por Dilthey, embora o grupo de Heidelberg já representasse outra geração. A tendência de definir o romantismo por marcos cronológicos revela a dificuldade persistente de caracterizar um conteúdo unificado.

Mais recentemente, o historiador da Goethezeit (Era Goetheana), H. A. Korff, concebeu o romantismo como “aquele segmento da história da literatura alemã que começa com os irmãos Schlegel, Tieck e Novalis, termina com Hoffmann, Eichendorff e Uhland, e que, no plano filosófico, é sustentado pelos grandes metafísicos do idealismo alemão: Fichte, Schelling, Schleiermacher, Schopenhauer e Hegel.” Essa definição confia à metafísica a tarefa de dar sentido ao romantismo, apresentando como referências uma série de nomes que, segundo Dilthey, estavam ainda menos em concordância entre si do que os escritores do grupo de Jena.

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