Saint-Martin Sophia

Louis-Claude de Saint-Martin — Excertos de sua obra
SOPHIA
Seleção de Nicole Jacques-Chaquin, publicada nos Cadernos do Hermetismo — minha tradução
O leitor irá descobrir, nestas obras (em Jacob Boehme), que a natureza física e elementar atual é somente um resíduo e uma corrupção (alteração) de uma natureza anterior, que o autor denomina a natureza eterna; que esta atual natureza formava outrora, em toda sua circunscrição, o império e o trono de um dos príncipes angélicos, chamado Lúcifer; que este príncipe, desejando reinar somente pelo poder do fogo e da ira, pondo de lado o reino do amor e da luz divina, que deveria ter sido sua única chama, inflamou assim toda a circunscrição de seu império; que a sabedoria divina opôs a esta conflagração um poder temperante e refrigerante, que contém este incêndio sem extingui-lo, o que faz a mistura do bem e do mal que se nota hoje em dia na natureza; que o homem, formado ao mesmo tempo, do princípio do fogo, do princípio da Luz e do princípio quintessencial da natureza física ou elementar, foi colocado neste mundo para conter o rei culpável e destronado; que este homem, embora tendo em si o princípio quintessencial da natureza elementar, devia mantê-lo como absorvido no elemento puro que compunha então sua forma corporal; mas que se deixando mais atrair pelo princípio temporal da natureza do que pelos outros dois princípios, o homem foi dominado por ele, a ponto de cair no sono, assim como o diz Moisés; que tão logo se encontrando sobrepujado pela região material deste mundo, deixou seu elemento puro ser tragado e absorvido na forma grosseira que nos envolve atualmente; que por aí ele se tornou o sujeito e a vítima de seu inimigo; que o amor divino que se contempla eternamente no espelho de sua sabedoria, denominada pelo autor a virgem SOPHIA, percebeu neste espelho, onde todas as formas estão contidas, o modelo e a forma espiritual do homem; que se revestiu desta forma espiritual e posteriormente, da forma elementar ela mesma, a fim de apresentar ao homem a imagem daquilo que ele tinha se tornado e o modelo daquilo que deveria ter sido; que o objeto atual do homem na terra é de recuperar, ao físico e ao moral, sua semelhança com o seu modelo primitivo; que o maior obstáculo que aí depara é o poder astral e elementar que engendra e constitui o mundo, e para o qual o homem foi absolutamente feito; que o engendramento atual do homem é um signo falando desta verdade, pelas dores que na gravidez as mulheres experimentam em todos os seus membros, a medida que o fruto se forma nelas e aí atrai todas estas substâncias astrais e grosseiras; que as duas tinturas, uma ígnea e a outra aquática, que devem estar unidas no homem, e se identificar com a sabedoria ou a SOPHIA, (mas que agora estão divididas), se buscam mutuamente com ardor, esperando encontrar uma na outra esta SOPHIA que lhes falta, mas só encontrando o astral que as oprime e as contraria; que somos livres para restituir por nossos esforços ao nosso ser espiritual nossa primeira imagem divina, assim como lhe permitir tomar imagens inferiores desordenas e irregulares e que são estas diversas imagens que farão nossa maneira de ser, quer dizer nossa glória ou nossa vergonha no estado a vir. (Ministério do Homem-Espírito)



Louis-Claude de Saint-Martin