Schimmel Caminho Sufi

Annemarie Schimmel — DIMENSÕES MÍSTICAS DO ISLÃ
O Caminho
Fundamentos do Caminho

Místicos em todas as tradições religiosas descreveram os diferentes passos na via que conduz a Deus pela imagem do Caminho. A divisão cristã tripartite da via purgativa, via contemplativa e da via via illuminativa é de certa maneira a mesma da definição islâmica de sharia, tariqa e haqiqa.

A tariqa, o “caminho” no qual os místicos avançam, foi definido como “o caminho que resulta da sharia, pois a estrada principal é chamada shar, o caminho, tariq”. Esta derivação mostra que os sufis consideravam o caminho da educação mística como um ramo desta estrada que consiste da lei dada por Deus, no qual todo muçulmano supostamente trilha. Nenhum caminho pode existir sem a estrada principal da qual ramifica; nenhuma experiência mística pode se realizar se as injunções da sharia não são primeiro fielmente seguidas. O caminho, tariqa, entretanto, é mais estreito e mais difícil de trilhar e leva o adepto — chamado salik, “itinerante” — em seu suluk, “itinerário”, através de diferentes estações (maqam) até talvez atingir, mais ou menos lentamente, sua meta, a perfeita tauhid, a confissão existencial de que Deus é Uno.

O via tripartite para Deus é explicada por uma tradição atribuída ao profeta: “A sharia são minhas palavras (aqwali), a tariqa são minhas ações (amali), e a haqiqa é meu estado interior (ahwali)”. Sharia, tariqa e haqiq” são mutuamente interdependentes:

A lei sem a verdade é ostentação, e a verdade sem a lei é hipocrisia. Sua relação mútua pode ser comparada àquela do corpo e do espírito: quando o espírito parte do corpo, o corpo vivo se torna um cadáver, e o espírito desvanece como o vento. A profissão muçulmana de fé inclui ambas as afirmações: “Não há nenhum deus mas Deus” é a Verdade, e “Maomé é o apóstolo de Deus” é a Lei. Qualquer um que negue a Verdade é um infiel, e qualquer um que rejeite a Lei é um herege. (Hadith do Profeta)

“Beijar a soleira da sharia” é o primeiro dever de qualquer um que queira entrar no caminho místico. Os poetas frequentemente falaram em versos, e os místicos em pungentes sentenças, dos diferentes aspectos destes três níveis (algumas vezes marifa, “gnosis”, é substituída por haqiqa, “verdade”). Assim é dito na Turquia:

Sharia: teu é teu, meu é meu.
Tariqa: teu é teu, meu é teu também.
Marifa: não há nem meu nem teu.

O significado é este: na tariqa, o místico deveria praticar ithar, i.e., preferenciar outros a si mesmos, mas no estágio unitivo da diferença entre meu e teu foi subsumida na divina unidade.

Uma vez os místicos tendo identificado estas três principais partes da vida religiosa, eles começam a analisar os diferentes estágios e estações que o peregrino deve pasar em seu caminho. Eles distinguem entre maqam, “estação”, e hal, “estado”: “Estado é algo que desce de Deus no coração do homem, sem ele ser capaz de repeli-lo quando ele vem, ou de atraí-lo quando ele se vai, por seu próprio esforço”. Ou como Rumi põe poeticamente:

O hal é como o desvelamento da bela noiva, enquanto o maqam é o (rei) estar só com a noiva. (M 1: 1435)

O maqam é um estágio final, que o homem alcança, até certa extensão, por seu próprio esforço. Pertence a categoria dos atos, enquanto os estados são dons de graça. O maqamat, “estações”, define os diferentes estágios que o peregrino alcançou em sua disciplina ascética e moral. Dele se espera que tenha preenchido completamente as obrigações pertencendo as respectivas estações, por ex., ele não deve agir na estação do respeito como se ele ainda estivesse na estação do arrependimento; ele não deve deixar a estação na qual habita antes de ter completado todos seus requerimentos. Os estados que vêm sobre ele variarão de acordo com a estação na qual presentemente vive; assim qabd, “contração”, de alguém na estação d pobreza é diferente do qabd de alguém na estação de desejo.

Estações e estágios
A primeira estação no Caminho, ou melhor seu verdadeiro começo, é tauba, “arrependimento”; tauba significa o abandono dos pecados, abjurando toda preocupação mundana. Como diz o poeta: Arrependimento é um estranho montar — pula-se em direção ao céu em um único momento desde o lugar mais baixo. (M 6:464)

Amor e aniquilação
As últimas estações do caminho místico são amor e gnose, mahabba e marifa. Às vezes considerados complementares entre si, algumas vezes o amor visto como superior, e outras vezes a gnose considerada mais alta.

Formas de adoração
*Oração Ritual
*Oração Livre
*Dhikr
*Sama

Annemarie Schimmel, Islame