Schuon (EPV) – Criteriologia elementar das aparições celestiais

Segundo um hadith, o diabo não pode tomar a aparência do Profeta. Isto é perfeitamente plausível em si, mas não se pode questionar qual é a utilidade dessa informação, visto que, após o desaparecimento dos Companheiros, não havia mais, e não há mais, testemunha dessa aparência. O alcance prático do hadith é o seguinte: se o diabo tomasse a aparência de um homem deificado ou de um anjo, ele forçosamente se trairia por algum detalhe dissonante. Provavelmente, isso passaria despercebido para aqueles em cuja intenção há falta de desprendimento e de virtude, os quais, colocando seus desejos acima da verdade, querem, no fundo, ser enganados, mas não por aqueles cuja inteligência é serena e a intenção pura. Objetivamente, o demônio não pode tomar a aparência perfeitamente adequada de um “anjo de luz”, mas pode fazê-lo subjetivamente adulando e, portanto, corrompendo o espectador aberto à ilusão. Isso explica por que, no clima da mística individualista e passional, rejeita-se, às vezes, toda aparição celeste, medida de prudência que não teria nenhum sentido fora de tal clima e que, em todo caso, é excessiva e problemática em si mesma.

A boa atitude em relação a uma aparição — ou a uma outra graça — que Deus não impõe como certeza inegável é uma neutralidade deferente, eventualmente, uma expectativa piedosa. Mas, mesmo quando uma graça apresenta caráter de certeza, é importante não se basear exclusivamente nela, receando cair no erro que muitos falsos místicos cometeram no começo da carreira. Pois o fundamento decisivo do caminho espiritual é sempre um valor objetivo, sem o que não se poderia falar de um “caminho” no sentido próprio do termo. Isto significa que, em relação às graças ou visões, não se deve ser nem indelicado nem crédulo, bastando fundamentar-se nos elementos inabaláveis do caminho, ou seja, os elementos da Doutrina ou de Método, cuja certeza é a priori absoluta e que jamais serão negados pelas graças autênticas.

  • O diabo e as aparências celestes
  • Qual é a boa atitude para como uma aparição?
  • Deste gênero particular de graça que é o êxtase
  • Dos poderes de cura, de previsão, de sugestão, de telepatia, etc…
  • Da aparição de um homem deificado, diferença entre um sonho e um sono ordinário
  • Algumas considerações sobre a relação entre o estado se sono e o estado de vigília no “jnanismo” moderno
  • Qual detalhe é contrário à autenticidade de uma aparição celeste?
  • De um critério decisivo de autenticidade
  • De que depende nossa atitude a respeito das manifestações celestes?

Frithjof Schuon