Schuon (EPV) – Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal

Mas o que significa, no Gênese, a ideia de que o conhecimento do Bem e do Mal é um privilégio de Deus? Significa que só Deus pode querer tudo o que Ele quer, porque só Deus é o Bem Soberano e, em consequência, Ele só pode querer o bem;88 apenas o Bem absoluto tem direito à Liberdade absoluta, somente Ele a possui, o que corresponde a dizer que Ele a possui por definição. Em que sentido o pecado do primeiro casal humano foi a usurpação de um privilégio divino? No sentido de que esse casal, ao comer o fruto proibido, agiu como se fosse o Bem Soberano, a quem se permite ontologicamente toda possibilidade; isto quer dizer que Adão e Eva atribuíram ao relativo os direitos do Absoluto. Positivamente, a árvore da ciência do Bem e do Mal é a Toda-Possibilidade na qualidade de Liberdade divina; negativa ou restritivamente ela é essa Possibilidade na medida em que, desdobrando-se na Existência, portanto para baixo, se quisermos, afasta-se inevitavelmente da Fonte divina.

Deste último ponto de vista, a árvore da distinção do Bem e do Mal manifesta a Maya “impura”, a que desce, dispersa e, ao mesmo tempo, condensa e entorpece; é a Possibilidade cósmica, mas em seu aspecto inferior e centrífugo. Além disso, não é sem razão que essa árvore é a morada da serpente instigadora da queda: com efeito, a serpente representa, segundo o seu simbolismo negativo, o modo luciferiano e tenebroso da tendência demiúrgica; portanto, devia encontrar-se no Paraíso primordial como virtualidade do mal, já que o Éden se situa, com efeito, no caminho da expansão cosmogônica. O Jardim celeste, por outro lado, situa-se no caminho do retorno e prefigura, à sua maneira, a Apocatástase; consequentemente, a tendência centrífuga aí se encontra neutralizada, é estática e não-dinâmica; gera as limitações existenciais no seio da Bem-aventurança, mas não pode romper o âmbito desta. O Paraíso terrestre estava situado na dimensão corruptível; em compensação, o Paraíso celeste está além dessa dimensão, é relativo sem ser instável; vive da Luz incorruptível que a proximidade de Deus oferece. O Paraíso descendente está praticamente vinculado à liberdade humana, ao passo que o Paraíso ascendente se fundamenta apenas na Graça divina.

Frithjof Schuon