Schuon Inteligência

Frithjof Schuon — Da Inteligência

Tradução em português encontrada na Internet, sem referência ao tradutor, nem à fonte

A inteligência é a percepção de uma realidade e, a fortiori, a percepção do Real em si; ela é ipso facto o discernimento entre o Real e o irreal — ou o menos real — e isto, em primeiro lugar, no sentido principial, absoluto ou “vertical” e, depois, no sentido existencial, relativo ou “horizontal”. Esclareçamos que a dimensão “horizontal” ou cósmica é o domínio da razão e da tentação racionalista, enquanto que dimensão “vertical” ou metacósmica é a do intelecto, da intelecção e da contemplação unitiva; e lembremos que entre todas as criaturas terrestres, só o homem possui a posição vertical, o que indica a potencialidade “vertical” do espírito e, por esse fato mesmo, a razão de ser do homem. 1

É preciso distinguir, no espírito humano, entre funções e aptidões: na primeira categoria, que é mais fundamental, distinguiremos de início entre a discriminação e a contemplação 2 e, depois, entre a análise e a síntese 3; na segunda, entre uma inteligência que é teórica e outra que é prática 4, depois entre uma que é espontânea e outra que é reativa, ou ainda entre uma inteligência que é construtiva e outra que é crítica 5. De um ponto de vista bem diferente, é preciso distinguir entre uma faculdade cognitiva que é somente potencial, outra que é virtual e uma terceira que é efetiva: a primeira se encontra em todos os homens, portanto também nos mais limitados; a segunda diz respeito aos homens não informados, mas capazes de compreender; a terceira, enfim, coincide com o conhecimento.





  1. É-nos forçoso notar neste contexto que a posição vertical se encontra também em certos pássaros aquáticos, o que se explica pelo jogo propositadamente paradoxal da Possibilidade universal. Num sentido menos rigoroso, poder-se-ia mesmo atribuir a verticalidade a todos os pássaros; há que se lembrar, então, que os pássaros em geral manifestam, e portanto simbolizam, os estados celestes; algumas espécies tendo ao contrário um significado maléfico, mas sempre “sobrenatural” em virtude do simbolismo das asas.  

  2. Ou a “concepção” e a “assimilação”, a primeira função sendo ativa e de certo modo masculina, e a segunda, passiva e feminina.  

  3. No budismo Shingon, um dos dois esquemas-quadro fundamentais (mandara, de mandala) representa o Universo sob o aspecto da análise ou do desenvolvimento, enquanto que o outro sugere a síntese ou a raiz; o que mostra que as funções do espírito humano se prestam às aplicações espirituais mais importantes.  

  4. Ou abstrata e concreta. Estes dois termos apresentam todavia o inconveniente de serem mal utilizados: com demasiada frequência se chama de “abstrato” o que pertence à ordem principial ou universal, e de “concreto” tudo o que é fenomenal; como se Deus fosse uma abstração, e como se só os fenômenos fossem realidades. Na disputa escolástica dos universais, toda a questão se resumia a saber o que se entende por “universal”, ou de que maneira se considera uma realidade principial ou arquetípica.  

  5. Há outros modos, como a presença de espírito, a habilidade, a astúcia, mas que são de um nível inferior e, de resto, encontram-se também no reino animal.  

Frithjof Schuon