Por outro lado, é importante não confundir a ideia de Retorno, que é precisamente o que o movimento intrassubstancial implica, com a noção de tanâsokh ou metempsicose. O corpo de ressurreição (jism okhrawî) é um corpo que a alma constituiu para si mesma; é, de certa forma, um corpo adquirido (moktasab) por causa de sua atividade, seu comportamento, seus hábitos bons ou ruins. Está na “mesma relação com a alma que a sombra está com aquilo que lança a sombra”. Consequentemente, esse retorno ou movimento transubstancial não deve ser pensado como uma “transferência local e material”, como se a alma estivesse se separando de um corpo para assumir outro (como é o caso da reencarnação), mas como a passagem de um modo de ser para outro modo de ser. Uma vez que a transferência é uma “transferência de substância” (intiqâl jawharî), o que também implica a ideia de metamorfose. Corbin diz: “Devemos imaginar um processo contínuo de renovação (ittisâl tajaddodî), uma sucessão contínua de metamorfoses do ser (akwân ittisâlîya). Pode-se dizer que a ideia autêntica de ma’âd substitui a ideia de transmigração pela de transubstanciação, e a ideia de metensomatose (tanâsokh) pela de metamorfose. Enquanto a ideia de uma transferência ou “transferência local” da alma implica dificuldades insuperáveis, a progressão da imperfeição para a perfeição, da intensidade mais fraca para a intensidade crescente, deste mundo para outro mundo, não apenas não oferece nada impossível, mas é de fato a ideia de uma verdade comprovada (mohaqqaq). É a própria ideia dessa ascensão do ser humano, de grau em grau, de mundo em mundo”.
É também por isso que o “corpo adquirido”, o corpo sutil, tem uma existência autônoma, independente do corpo material que o transporta; ele pode, por causa de poderes latentes acumulados, como comportamento e hábitos adquiridos (malikât), conformar-se ou estar em afinidade com (monâsabat fî’l-bâtin) uma das quatro categorias de seres: o anjo, o demônio, o animal, a besta feroz. Portanto, cabe à alma atingir a angelitude na ação ou cair abaixo de si mesma. Assim, a “super-humanidade dos profetas e Imâms” já é, em relação a essa natureza humana, o que a última é em relação ao animal.