Silburn: Abhinavagupta

Abhinavagupta viveu na Caxemira no final do século X e início do século XI d.C. Ele foi, sem dúvida, uma das maiores mentes da Índia. Esteta e filósofo, ele tinha a vasta cultura de um brâmane erudito: conhecimento dos “membros auxiliares do Veda”, o vedânga (gramática, poética, exegese de ritos etc.), e dos sistemas tradicionais de pensamento, o darsana. Vivendo na Caxemira, onde o budismo do Grande Veículo brilhava intensamente, ele também conhecia bem o pensamento budista, particularmente o idealismo vijnânavâdin, ao qual se referia com frequência em suas obras filosóficas. Mas Abhinavagupta era um sivaísta de uma tradição tântrica não dualista, e é essa forma de sivaísmo que — sem ignorar outros sistemas — expõe na vasta obra que é o Tantrâloka (…). Por último, mas não menos importante, é essencial lembrar que Abhinavagupta alcançou as alturas da vida mística: sua descrição dos caminhos para a liberação é sempre iluminada pela luz de uma experiência profunda e vivida.


Suas obras estão repletas de um conhecimento extraordinário que se estende a todos os campos, uma experiência mística rica e profunda e uma vida transbordante — seja qual for o assunto abordado.

Não se contentou em apresentar as concepções filosóficas místicas e tântricas de seus predecessores em um sistema vigoroso e bem construído; como um intérprete penetrante e ousado, colocou a marca de seu vasto gênio nelas. Sua obra-prima, o Tantrāloka, constitui a soma teológica da escola Trika.

Abhinavagupta não é apenas o maior dos filósofos de Kashmīr, ele é ainda mais famoso, e famoso em toda a Índia, por suas obras estéticas sobre o prazer artístico (RASA) e sobre a sugestão (dhvani), que envolve uma interessante teoria do não dito na arte.

Sua exposição das teorias estéticas de seus predecessores é notável por sua originalidade e maestria. Isso o torna a maior autoridade em poética indiana ((Sobre a vida e as obras de Abhinavagupta, consulte a tese do Dr. Kanti Chandra Pandey: Abhinavagupta. The Chowkhamba Sanskrit Series. 1935. Vol. I, p. 1-21, da qual tomamos emprestada uma grande quantidade de informações).

Abhinavagupta (950-1016), Lilian Silburn (1908-1993)